Após salvar filhos de incêndio, mãe tenta superar trauma e retomar a rotina

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Marcela com a filha Gaia após o incêndio (arquivo pessoal)
Marcela com a filha Gaia após o incêndio (arquivo pessoal)

Quase quatro meses após um incêndio destruir a casa onde vivia com os três filhos e o marido, a funcionária pública Marcela Zarif, 38, tenta se adaptar à nova rotina após ficar mais de dois meses internada ao se machucar salvando os filhos das chamas. As crianças escaparam ilesas enquanto ela teve 30% do corpo queimado com queimaduras de segundo e terceiro graus.

Mãe de Samuel, 10, Damião, 6, e Gaia, 1, Marcela disse que o mais difícil durante a internação foi ficar sem poder ver e falar com os filhos. “Somos muito próximos e a saudade deles foi o mais difícil já que não podiam entrar no hospital. Na UTI também não podia usar o telefone e só fui falar com eles na última semana de internação, quando já estava no quarto”, conta a mãe.

Marcela diz que reencontrar os filhos foi emocionante e que cada um reagiu de uma maneira. “Os meninos estranharam a pele machucada. O Damião estranhou muito enquanto o Samuel ficou preocupado, mas muito feliz. Conversamos e eles ficaram mais tranquilos”, diz.

A caçula foi a que reagiu melhor e, além de não estranhar nada a nova aparência da mãe, gargalhou ao vê-la de novo. Gaia ainda mamava no peito quando, por conta da internação da mãe, teve de acontecer o desmame repentino.

Marcela conta que ofereceu o peito para a filha após saber que o medicamento que toma não prejudicaria a amamentação. “Ela já tinha me pedido algumas vezes. No início ela tinha desaprendido, não conseguia mamar direito. Depois ela conseguiu, e de vez em quando mama, mas bem pouquinho, mais para um conforto. Emocionalmente está fazendo bem para nós duas esses momentos”, conta a funcionária pública.

Os meses longe de casa foram difíceis pois Marcela perdeu momentos importantes dos filhos, como quando a Gaia aprendeu novas palavras e Damião perdeu seu primeiro dente. “Não pude acompanhar esses momentos”, lamenta Marcela, que se sente aliviada pelos filhos terem saído ilesos do incêndio.

O incêndio que aconteceu na madrugada do dia 3 de maio não saí da cabeça de Marcela e de toda a sua família.  “Naquela noite a Gaia estava dormindo e acordou. Fui acalentá-la e acabei pegando no sono ao lado dela. Acordei com o barulho dos vidros da sala estourando. Desci e vi o andar de baixo já todo tomado pelo fogo”, conta Marcela, que decidiu descer pois lembrou que tinha uma escada no quintal para pegar e resgatar os filhos. As causas do incêndio ainda são investigadas.

Ela conta que a cunhada Tatiana Molon, 32, morava nos fundos do imóvel e a ajudou no resgate das crianças assim como um vizinho que acordou ao ouvir os gritos e pedidos de socorro das duas.  O marido de Marcela, Rodrigo Reis, 34, estava fora de casa trabalhando e só reencontrou Marcela quando ela já estava no hospital sendo medicada. O caso de Marcela foi contado pelo blog Mães de Peito quando ela ainda estava internada.

Após ter alta, Marcela segue com vários tratamentos médicos, entre eles, fisioterapia dermato-funcional  e motora e ainda precisa retornar ao hospital periodicamente. “Ainda vou passar por mais cirurgias plásticas, mas só quando a pele estiver mais cicatrizada. Já passei por três cirurgias durante a internação”, diz Marcela, que também faz psicoterapia para superar o trauma. “Ainda não consigo chegar perto de um fogão, mas sei que vou superar tudo isso.”

RECONSTRUÇÃO DA CASA

Marcela diz que seu maior sonho agora é reconstruir a sua casa, na Granja Viana, em Cotia (Grande SP). Por enquanto, a família de Marcela vive temporariamente em um apartamento na zona oeste de São Paulo. O imóvel foi cedido por uma amiga da família.

Marcela conta que recentemente voltou para sua casa e foi difícil ver tudo destruído. “Há muito o que fazer. Todo o andar debaixo foi danificado, incluindo portas, janelas, instalações elétricas, cozinha, piso, tudo”.

Marcela conta que está de licença até o fim do ano e que ela e o marido não têm como arcar com os R$ 200 mil necessários para a reconstrução. Comovidos com a história do casal, amigos da família criaram um crowdfunding (financiamento coletivo) para tentar chegar a esse valor. A campanha vai até o dia 24 de setembro.

Marcela diz que o apoio da família e dos amigos têm sido essencial e que a ajuda começou quando ainda estava internada. “Minha sogra e minha cunhada ajudaram cuidando das crianças enquanto estive internada. Meus amigos têm me dado todo o apoio possível ajudando de várias maneiras. Minha mãe e o Rodrigo se revezam para me levar aos tratamentos, enfim, tem sido muito importante esse apoio”, relata.

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