“Cedo ou tarde, você vai conviver com algum tipo de psicopata”, diz psiquiatra e escritora de best seller em Dourados

Em entrevista exclusiva, Ana Beatriz a falou sobre as relações que envolvem psicopatas e que afetam diretamente a sociedade

  • karina Veríssimo
Ana Beatriz Barbosa é uma das maiores referências no tratamento dos transtornos mentais no Brasil (Karina Veríssimo)
Ana Beatriz Barbosa é uma das maiores referências no tratamento dos transtornos mentais no Brasil (Karina Veríssimo)

O 1º Simpósio de Integração Interfaces Pedagogia, Psicologia e Serviço Social teve início nesta quarta-feira (21) no auditório da Unigran com a palestra de abertura com Ana Beatriz Barbosa da Silva, renomada escritora do best-seller Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado e médica psiquiatra, uma das maiores referências no tratamento dos transtornos mentais no Brasil.

Em entrevista exclusiva à 94FM, a psiquiatra falou sobre a naturalidade com a qual psicopatas convivem entre a sociedade, mesmo sendo perversos e não sentindo nenhum tipo de emoção. Em dois anos estudando e escrevendo o livro citado, a médica afirmou que psicopatas são 100% razão e 0% de sensibilidade, não se prendendo a nenhum tipo de emoção.

 

94FM – Muito se fala no termo psicopata, mas, afinal, como a psiquiatra define esse transtorno? Como são os psicopatas?

Ana Beatriz - Frios, calculistas e insensíveis à dor alheia. São pessoas que existem em diferentes classes sociais, raças, religiões e profissões. Eles estão até entre médicos, cirurgiões plásticos, jornalistas e tantas outras profissões, pois justamente conseguem ludibriar, enganar o outro sem serem desmascarados.

Eles mantem a mesma atitude em seduzir, mentir, magoar, dissimular, trair, abusar, roubar, agredir – e, diferentemente de grande parte das pessoas, não sentem culpa, remorso, compaixão, arrependimento e nem nenhum outro sentimento de responsabilidade para com as pessoas que ferem ou prejudicam.

 

94FM – Então, se os psicopatas não sentem nenhum tipo de sentimento, como muitos se casam, constituem família e vivem tranquilamente em sociedade?

Ana Beatriz - Muito simples. Eles vivem fantasiando uma vida para enganar o próximo. Isso é um negócio para eles, um jogo de conveniência. Simplesmente pelo poder e sensação de uma caça, como por exemplo uma pessoa que paga milhares de dólares para caçar e matar um leão na África, para depois colocar a cabeça na parede como prêmio. Desconfie de pessoas assim.

 

94FM – Já que a senhora citou sobre essa desconfiança, como as pessoas comuns podem notar se uma pessoa é ou não psicopata? Quais os sinais para identifica-los e se proteger?

Ana Beatriz - A presença deles é silenciosa no dia a dia de todos nós. Não tente entender a cabeça de um psicopata, é muito complexo. 4% da população sofre desse tipo de transtorno de personalidade, sendo divididos entre leves, moderados e graves. Veja bem, políticos que roubam dinheiro destinados à saúde e não sentem nenhum tipo de remorso, são recorrentes e fazem tudo pensando somente em si, são um tipo de psicopata. Se você ainda não teve, vai ter algum envolvimento. Todos fomos ou seremos vítimas de um.

 

94FM – Psicopatia pode ser diagnosticada como doença mental?

Ana Beatriz - Não. Associar psicopatia e loucura é comum, porém, é uma ideia equivocada. 'Loucura' é o que a medicina denomina surto psicótico (alucinações ou delírios), como ocorre com portadores de esquizofrenia, por exemplo, estes não tem noção do que fazem. Já os psicopatas sabem exatamente o que estão fazendo, é tudo calculado e tem consciência plena de seus atos. O prazer do psicopata se dá por três pontos: poder, status e pura diversão.

 

94FM – Trabalhando e tenho ampla experiência sobre o assunto, o que mais a amedronta em tantos seres perversos estarem convivendo entre as pessoas de bem?

Ana Beatriz -O que mais me preocupa é a população que não é psicopata se espelhar nas ações daqueles que não medem esforços para alcançar o que querem, que passam por cima do colega, que mentem, enganam, puxam o tapete para se dar bem... E isso, infelizmente, tem sido muito comum. A sociedade precisa rever seus valores morais. Hoje se dá uma importância excessiva ao ter, em detrimento do ser e isso precisa ser revisto.

 

Dra Ana Beatriz Barbosa Silva

Médica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora da clínica ANA BEATRIZ BARBOSA SILVA - Comportamento Humano e Psiquiatria (RJ). Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.
Também é consultora da Rede Globo nestas questões

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