Para esvaziar corredor, Hospital da Vida “espreme” pacientes nas enfermarias

Determinação do secretário de saúde do município faz hospital descumprir uma resolução da Anvisa

  • Alexandre Duarte

Nas últimas semanas o secretário de saúde de Dourados, o médico Sebastião Nogueira, tomou diversas medidas a fim de amenizar o caos no HV (Hospital da Vida). Uma delas foi retirar todas as camas dos corredores e colocar dentro das enfermarias. Aparentemente a medida parece uma ideia genial, se não fosse a falta de espaço físico no local.

Segundo funcionários do hospital que entraram em contato com a redação, a medida fez o HV resolver um problema e criar outro. Segundo a RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) de nº 50, expedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), nas enfermarias dos hospitais brasileiros deve haver o espaço mínimo de um metro de uma cama para outra e das camas para as paredes laterais. A norma visa a redução no risco de infecção hospitalar, como também pretende facilitar o trabalho da equipe médica e corpo de enfermeiros.

Sendo assim, a falta de espaço impede que a RDC 50 seja cumprida. Segundo a professora Cássia Brites, 43 anos, neta de uma paciente internada na unidade, a determinação do secretário fez piorar a situação, além de dificultar o trabalho dos profissionais da saúde. “Os pacientes estão dentro das enfermarias como se estivessem numa lata de sardinha. A minha avó é bem idosa e os enfermeiros mau tem espaço para dar banho nela”, reclamou.

Secretária de Saúde

Questionado pela redação da 94FM, o secretário confirmou que ao retirar todas as camas do corredor e colocá-las nas enfermarias, a RDC 50 não é cumprida, contudo, ele explica que é o melhor ou o menos pior a ser feito diante da precária infra-estrutura. “O espaço que temos é aquele e colocar os pacientes apertados nas enfermarias tem um risco menor do que deixá-los no corredor, ou você não concorda comigo?”, respondeu.

Um problema apontado pelo secretário é que existe uma enorme falta de vontade por parte de uma ala de profissionais que trabalha no hospital. Nogueira garante que muitos não fazem o que podem ou o que devem fazer e apenas atuam de forma a prejudicar a administração municipal.

Outro problema, segundo o secretário, é a má vontade do Hospital da Vida em utilizar os leitos do SUS (Sistema Único de Saúde) disponibilizados em Fátima do Sul. “São 20 leitos que estão ociosos e que poderiam reduzir a superlotação do hospital, mas infelizmente estão sem uso e a culpa é da administração hospital”, reclamou.

Nogueira diz também a administração pública faz o que é possível dentro da infra-estrutura que dispõe no momento, e que a solução para o problema só virá quando o Hospital Regional de Dourados estiver em funcionamento.

Hospital Regional

É uma antiga necessidade da região da Grande Dourados, que deve se concretizar em breve, graças a emenda parlamentar conjunta, entre os deputados federais Marçal Filho, Antônio Carlos Biffi e o senador Delcídio do Amaral, que disponibilizaram R$ 17,8 milhões para dar início à obra.

Em março deste ano, em audiência pública realizada na Câmara Municipal de Dourados, onde a construção do hospital foi anunciada à população, Andre Puccinelli, no uso da tribuna, garantiu à população que o estado de Mato Grosso do Sul se compromete em arcar com todos os demais investimentos que forem necessários para a conclusão da obra.

Marçal Filho, atual relator do Orçamento da União para a saúde em 2014, trabalha junto ao Ministro da Saúde, Alexandre Padilha e à Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a fim de acelerar o empenho dos recursos.