Thammy nega que cobra para mostrar peitoral após cirurgia

  • Diário de S.Paulo
Thammy se assumiu aos 16 anos. Porém, anunciou para a mídia apenas aos 24 anos (Divulgação)
Thammy se assumiu aos 16 anos. Porém, anunciou para a mídia apenas aos 24 anos (Divulgação)

Logo de cara, ao atender o telefone, Thammy Miranda  mostrou naturalidade para falar sobre sua nova fase. “Pode me chamar como você se sentir mais à vontade”, respondeu, quando lhe perguntei se preferia o gênero feminino ou masculino.

Falando abertamente sobre tudo o que passou e o que pretende com sua biografia “Thammy: Nadando Contra a Corrente” (que chega às livrarias no dia 7), o ator revelou como foi difícil ficar sem falar com a mãe, comentou sobre a briga com o pastor e deputado Marco Feliciano e disse até se arrepender de ter seguido carreira artística.

Divertido, Thammy debochou dos boatos de que estaria cobrando para mostrar o peitoral na TV (após a cirurgia de retirada dos seios) e fez piada sobre uma possível troca de nome, após ter se assumido como transexual. O ator sugeriu até uma manchete para jornais, revistas e sites: “Thammy muda nome para Tonhão do Caminhão. Vai vender, né? (risos)”, brincou.

DIÁRIO_ Como está a expectativa para o lançamento da biografia? Acha que pode ajudar outras pessoas que seguem o mesmo caminho que você?

THAMMY MIRANDA_ O intuito total é esse: ajudar essas pessoas, com minha história, com o que passei. Com certeza conseguirei fazer com que outras tentem entender o que acontece com seu filho, com algum parente  para conseguir respeitar essas pessoas.

Você imaginava que a publicação da sua foto sem camisa que está na biografia ia causar tantos comentários?

Comentários eu sabia que ia gerar, só não queria que tivesse sido tão antes da biografia sair. A foto não é tanto o foco. O foco é a história, para que as pessoas possam enxergar essa questão da transexualidade de uma forma mais correta.

Além da cirurgia para retirada dos seios, o que mais você fez?

Eu faço a terapia hormonal. Os hormônios fazem parte do processo de transexualidade, para a pessoa ter características masculinas, como voz grossa, pelos no corpo...

Um jornal publicou que você estaria cobrando R$ 10 mil para mostrar o peitoral na TV...

Ah, está pouco. Eu acho que eles colocaram um valor muito baixo. Minhas “peitcholas” valem mais (risos). Nem ferrando. Pra vender matéria a galera está fazendo de tudo. Já saiu tanto trecho do meu livro que, pelo amor de Deus, daqui a pouco ele vai estar inteiro na internet.

Por falar no seu livro, a sua biografia relata que sua mãe te agrediu e disse que preferia ter um filho morto do que gay. Como foi não ter o apoio da sua mãe naquele momento?

Na época foi extremamente complicado porque a pessoa mais importante da sua vida naquele momento está virando as costas pra você. Hoje em dia, com uma certa maturidade, superentendo o lado dela. Por isso também do meu livro, pra poder ajudar esses pais, pra eles é uma surpresa também. 

Vocês ficaram sem se falar? Você pensou em mudar de ideia quanto à sexualidade?

Sim, a gente ficou um tempo sem se falar, mas nunca pensei em mudar de ideia porque não foi uma ideia virar gay. Não era uma opção, não tinha escolha. Era minha realidade.

E o restante da sua família, te deu apoio?

A família do meu pai praticamente toda me apoiou.

Como é a relação com sua mãe hoje?

A gente se dá superbem. Sempre se deu superbem. Tivemos uma fase, tanto pra mim quanto pra ela de entender o que estava acontecendo, de aceitação... Ficamos perdidos juntos. Foi uma novidade pra casa inteira, mas já resolvemos isso há um tempo.

Você assumiu sua homossexualidade em 2006. Mas quando percebeu que não queria ser como nasceu?

Antes disso eu já vinha me processando. Saiu na mídia em 2006, mas desde os meus 16 minha mãe já sabia.

Quando você era mais jovem, sua mãe te lançou como funkeira, você chegou a fazer ensaios sensuais... Você concordou com tudo isso?

Desde que comecei com minha mãe já foi meio que, não digo a contragosto, porque foi uma opção minha, mas aceitei porque queria estar perto dela, viajar com ela... Mas não amava fazer. Meu grande personagem foi esse. Personagem da vida real.

Quando você vê fotos e vídeos daquela época se arrepende de tê-los feito?

Eu me arrependo, sabia? Se eu soubesse como ia ser minha vida mais pra frente, com certeza teria me formado e não teria seguido carreira artística.

E teria feito o quê?

Ah, não sei... Faria engenharia, arquitetura, medicina... Só não seria artista.

Mas você se arrepende de ter seguido carreira artística por ter sido mais difícil se assumir sendo uma pessoa pública?

Não por esse fato de ter sido mais difícil ou fácil, porque tudo tem os seus dois lados e é difícil pra qualquer pessoa. Mas pela questão de ter feito uma coisa que não curtia fazer por tanto tempo, pelo mercado de trabalho ser muito difícil e por vários motivos.

E foi mais difícil se assumir sendo conhecida?

Não. Existem as partes mais difíceis, mas também tem os privilégios. Não posso ser hipócrita de dizer que o artista não tem mais privilégio. Não sofro tanto preconceito quanto um transexual sofre, mas sofro outros tipos de preconceito que um transexual normal não sofre.

Que tipo de preconceito, por exemplo?

Não é só muito preconceito, mas questão do dia a dia. Ir num banheiro: um transexual masculino comum, ninguém sabe se é homem ou mulher. Ele tem uma imagem masculina, pronto e acabou. Pra mim é complicado, é a Thammy entrando no banheiro masculino. Não tem muito como esconder. Então tem prós e contras.

Você e o Marco Feliciano já  tinham se estranhado no programa do Raul Gil e em uma brincadeira da “Eliana”,  você disse que aceitaria o pastor no Facebook para encher a vida dele de amor. Você acha que essa é a melhor forma de combater o preconceito dessas pessoas?

Tudo tem um limite, né? Mas, no caso do Marco Feliciano, acho que esse cara precisa de mais atenção do que a gente imagina. Ele faz muitas coisas pra chamar atenção. Ele disse que já sofreu preconceito na infância, bullying por ter cabelo pixaim, porque a mãe dele era negra... É um cara muito sofrido e talvez não saiba transformar esse sofrimento em amor. Ele ensina os fiéis dele a ter um pouco de ódio das pessoas que são diferentes dele.

E não é assim que a gente vai conseguir atenção, pode conseguir de outra forma que seja bacana. Tinha muita raiva dele, mas percebi que ele precisa de mais amor do que eu. Sou muito feliz, sou muito amado pelas pessoas à minha volta, tenho muito carinho das pessoas que convivem comigo... Acho que ele precisa disso. Minha assessora está até fazendo um carinho no meu braço nesse momento (risos).

Você já está sendo chamado pelas pessoas no gênero masculino?

Sim, a maioria das pessoas que convive comigo já está me chamado no masculino há um bom tempo.

Pretende mudar de nome?

Vou me chamar Tonhão agora. Tonhão do Caminhão. Brincadeira (risos). Vai vender, né?  Thammy muda nome para Tonhão do Caminhão (risos). Brincadeira, vai ser Thammy mesmo.

O ator se transforma em cena. Você provou isso com a Lorraine em “Salve Jorge”, quando  já tinha declarado sua homossexualidade. E hoje se surgisse convite para interpretar uma mulher, você toparia?

Toparia, sem restrições. O personagem, como você disse, você se transforma para fazê-lo. Posso ser homem, mulher, fazer uma árvore ou seja lá o que for (risos).

Como está seu namoro com Andressa? Pretende se casar?

A gente já vai fazer quase dois anos juntos. Estamos caminhando, uma hora a gente casa. Tenho vontade de ter uma família,  filhos, de casar... Mas tudo no seu tempo, a gente não está com pressa não. A gente precisa viajar muito ainda.

Você está prestes a completar 33 anos. Se sente realizado, sente que chegou no melhor momento da sua vida?

Já posso morrer (risos). Já fiz tudo que queria e posso morrer (risos). Não, falta muito ainda. Quero fazer muita coisa, tenho muita novela pra fazer.

Você continua fixo no quadro “Elas Querem Saber”, do Raul Gil? O fato de o quadro ter o pronome no feminino te incomoda?

Por enquanto continuo lá sim. Deveria ser “els” querem saber, sem o “e” nem o “a” (risos). Mas não me importo. Quando tudo começou já era assim, o nome do quadro é esse. Isso é so um detalhe.

Você ainda mantém o programa que tinha no canal da Antonia Fontenelle para ajudar homossexuais, transexuais?

Estava complicado fazer sem patrocínio, ficar bancando do bolso para ir e voltar do Rio toda a hora, então demos um tempo. Mas, assim que der, vou voltar a fazer.

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