Peritos da PF da Capital desenvolvem sistema que detecta arquivo suspeito em computador de pedófilos

  • Correio do Estado
Peritos da PF da Capital desenvolvem sistema que detecta arquivo suspeito em computador de pedófilos

A mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em novembro de 2008, foi o que motivou os peritos criminais federais de Campo Grande, Pedro Eleutério e Mateus Polastro, a criarem o NuDetective. Trata-se de uma ferramenta para auxiliar o trabalho da polícia na busca por fotos e vídeos em computadores de pessoas suspeitas de envolvimento com o crime de pedofilia. A ferramenta já foi disponibilizada, gratuitamente, para vários países, como Argentina, Suécia, Polônia e Áustria.

Por conta da alteração no Estatuto, passou a ser tipificado como crime a posse de arquivos de pornografa infantil. A equipe policial então se viu diante de uma situação em que tinha apenas o tempo do cumprimento do mandado judicial para buscar arquivos no computador do suspeito, que pudessem configurar o flagrante delito.

“A gente sentiu na pele porque passava horas procurando e nem sempre conseguia olhar todos os arquivos do computador”, explicou Pedro, contanto que ele e o Mateus tiveram a ideia de criar o programa para facilitar o trabalho.

Pedro é engenheiro da computação e Mateus é bacharel em Ciência da Computação, ambos com mestrado na área. Os dois então elaboraram o projeto, programaram e desenvolveram o sistema sozinhos. Tudo era feito fora do horário de trabalho, incluindo, Nos finais de semana.

A primeira versão do NuDetective ficou pronta em 2010, após 6 meses de desenvolvimento no tempo livre dos peritos. Atualmente, o programa está na versão de número três e a novidade é que agora ele também detecta vídeos suspeitos e não apenas fotos.

Pedro explicou que normalmente os policiais levam a ferramenta num CD ou pen drive. O sistema não é instalado no computador do suspeito para preservar os dados da pessoa contra quem está sendo cumprida a ordem judicial.

Ainda conforme o engenheiro, o policial retira o disco rígido do computador, onde ficam os dados, o coloca num bloqueador de escrita e conecta no computador da polícia para rodar o programa que faz a varredura.

Técnicas

O trabalho de busca utiliza quatro técnicas principais e distintas. A primeira é bem simples, conforme descrição dos especialistas, e consiste na análise de nomes dos arquivos. “Essa técnica é boa porque quando a pessoa baixa o arquivo e salva no computador, o nome que fica armazenado na máquina é o que o pedófilo usou na busca na internet. Se ele não renomeou, a técnica encontra o arquivo”, contou Pedro.

Já o perito Mateus explicou que a segunda técnica chama-se análise de hash, que é como se fosse uma impressão digital do arquivo. “A Polícia Federal tem uma lista de todos os arquivos de pornografia infantil conhecidos e já apreendidos”, ressaltou, comentando que nesta etapa procura-se por arquivos previamente elencados.
Até esta etapa o sistema não trás nada de novo e os diferenciais do NuDetective foram guardados para as técnicas de número três e quatro.

A terceira técnica é a análise de imagem. “Toda vez que o sistema encontra uma imagem, ele analisa o conteúdo para detectar se tem ou não nudez humana”, explicou Mateus.

Já a quarta e última técnica foi digna de reconhecimento e premiação nacional. Consiste na análise de vídeo. “O vídeo é uma sequência de imagens. A gente fez uma série de experimentos e desenvolveu uma fórmula em que o sistema analisa uma amostragens dos quadros, que compõe o vídeo e, se detectar um percentual mínimo de 65% de nudez humana, o material é considerado suspeito. O número de 65% vale apenas para casos de vídeo de pornografia infantil e chegamos a esse dado com base em experimentos, em testes”, justificou o engenheiro Pedro, explicando que o desenvolvimento dessa última técnica contou com apoio da Polícia Federal.

Credibilidade

A cada técnica que Pedro e Mateus desenvolvem, eles tentam publicar um artigo científico para dar maior credibilidade ao trabalho.

O NuDetective foi disponibilizado ainda para países que demonstraram interesse, como: Argentina, Paraguai, Nova Zelândia, Áustria, Polônia e Suécia.

De acordo com Pedro, mais de 70% dos institutos, que solicitaram a ferramenta usaram em casos reais e mais de 70% conseguiram encontrar arquivos suspeitos.

Prêmio

Por conta da técnica que analisa vídeos, Pedro e Mateus receberam em setembro o Prêmio Destaque Forense. O trabalho dos peritos que tem o título de “Rápida Identificação de Pornografia Infantil em Vídeos Digitais” foi julgado no biênio 2012/2013, na categoria de Melhor Artigo Científico em Ciências Forense.

A ferramenta ajuda a filtrar e facilita o trabalho do perito, que irá analisar o material considerado suspeito, é gratuito e já foi disponibilizado para várias instituições públicas de todo o Brasil, como Ministério Público, Polícia Civil e Instituto de Criminalística. A Polícia Federal de todos os estados utilizam o sistema, que é de uso restrito das entidades de cunho investigativo.​

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