Delator revela plano do governo para ministro do STJ sabotar Lava Jato

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A presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, dia 1º de abril. Delator revela mais detalhes sobre operaç... (AP Photo/Eraldo Peres)
A presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, dia 1º de abril. Delator revela mais detalhes sobre operaç... (AP Photo/Eraldo Peres)

Em delação premiada, Diogo Ferreira, braço direito do senador Delcídio do Amaral, detalhou a proximidade do ex-petista com o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro, antes de sua nomeação ao cargo. Conforme antecipou ÉPOCA, o documento foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki na última quinta-feira, 14. Ferreira disse aos procuradores que agendou encontros entre Navarro e o senador, e que ouviu em diversas ocasiões que a estratégia era nomeá-lo para o STJ com o objetivo de barrar a Lava Jato. Ferreira disse que Delcídio citava nominalmente Marcelo Odebrecht como maior beneficiário da estratégia. O ex-chefe de gabinete apresentou ainda mensagens de WhatsApp trocadas com Navarro para marcar encontros com Delcídio. Segundo ele, atenção semelhante não era dispensada a nenhum outro candidato da lista tríplice de indicados ao STJ. Da lista, Navarro foi o único a ir ao gabinete de Delcídio. Foram três visitas.

imagem - Whatsapp - Marcelo Navarro (Foto: Reprodução)

Ferreira contou aos procuradores que Delcídio revelou o teor da conversa mantida com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, em que a petista pediu para que Delcídio obtivesse de Navarro um "compromisso de alinhamento com o governo para libertar determinados réus importantes da Operação Lava Jato". Ainda segundo o delator, o mesmo compromisso já havia sido obtido do ministro Joaquim Falcão, que era alinhado com Navarro.

Diz o trecho da delação: “que o Senador contou ao depoente, depois dessa reunião, que ele e o então Ministro da Justiça precisavam atentar para a importância dessa nomeação, porque ela envolvia a substituição do Ministro convocado Trisotto e a relatoria da Operação Lava Jato; que a partir dai o Senador Delcídio do Amaral e o Ministro Jose Eduardo Cardozo passaram ater contato muito mais frequente; que, em determinado fim de semana, não distante no tempo da reunião que anteriormente narrada, o depoente se encontrou com o Senador Delcídio do Amaral no hotel Golden Tulip, onde este residia, e contou ao depoente haver tido, no mesmo fim de semana, encontro particular com a Presidente Dilma Rousseff, a qual lhe pedira, na ocasião, que obtivesse de Marcelo Navarro o compromisso de alinhamento com o governo para libertar determinados réus importantes da Operação Lava Jato; que, segundo o Senador Delcídio do Amaral, a Presidente Dilma Rousseff falou expressamente em Marcelo Odebrecht”.

Ferreira disse que não participava das reuniões dentro do gabinete de Delcídio, mas que, em uma ocasião, durante um encontro de Delcídio com o então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, Ferreira foi chamado à sala para informar os números dos habeas corpus dos ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Renato Duque. Terminada a reunião, Delcídio disse a Ferreira que a intenção era obter parecer favorável de Navarro, já ministro do STJ, em relação aos habeas corpus. Ferreira revelou ainda que, pouco tempo depois, quando Navarro foi ao gabinete do senador, ao se despedir, disse a Delcídio: "Não se preocupe, está tudo entendido".

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