Rapaz morre após ser espancado ao sair de boate gay

  • Tribuna da Bahia
Rapaz morre após ser espancado ao sair de boate gay

Mais um caso de violência chocou a capital baiana. O estudante Leonardo Moura, 30, morreu na manhã de ontem (11) após ter sido espancado enquanto andava pelas ruas do bairro do Rio Vermelho. De acordo com relatos feitos à polícia, a agressão aconteceu por volta das 5h30 de sábado (9), depois que o jovem deixou a boate San Sebastian e seguiu pela Rua da Paciência à procura de um táxi. A família da vítima acusa caso de homofobia.

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Conforme informou a Polícia Civil, um pescador encontrou o jovem caído na praia do Rio Vermelho e acionou uma ambulância do SAMU. Leo Moura, como é conhecido, possuía muitos ferimentos e foi levado ao Hospital Geral do Estado (HGE). Ele chegou a receber os primeiros socorros, mas deixou a unidade após assinar termo de responsabilidade e recusar-se a realizar as tomografias solicitadas pela médica que o atendeu.

Em depoimento à titular da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), Mariana Ouais, que investiga o caso, familiares da vítima relataram que Leo Moura retornou ao HGE por volta das 15h de sábado, devido às fortes dores abdominais e ocorrência de vômito. Ao chegar à unidade, foi constatado que um de seus rins estava dilacerado, e a vítima foi submetida à cirurgia.

Ele chegou a reagir e interagir após o procedimento cirúrgico, mas acabou não resistindo e falecendo na manhã de ontem, pouco depois das 6h. “Uma equipe do DHPP foi deslocada para o HGE, onde apuraram que, nos momentos em que estava lúcida, a vítima disse não se recordar de ter sofrido agressões. Em casa, ele também não descreveu o que tinha ocorrido, segundo familiares”, pontuou a Polícia Civil.

A família do estudante está assustada e ainda sem informações de quem ou o que teria motivado o crime, mas a suspeita é de homofobia. De acordo com a prima da vítima, Caroline Moura, Leonardo era uma pessoa bem quista, sem envolvimento com drogas ou brigas. Por isso, os parentes acreditam que se trata de um crime homofóbico, sobretudo porque os pertences da vítima não foram levados.

A fim de esclarecer o crime, a delegada que comanda o caso já solicitou imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos no trecho percorrido pelo estudante, bem como encaminhou um ofício ao HGE e ao SAMU, solicitando as informações referentes aos atendimentos prestados ao rapaz. A polícia refutou a versão da família e declarou que o celular de Leo Moura não foi encontrado, à vista disso não descarta nenhuma linha de investigação.

Manifestação contra homofobia acontecerá na sexta

O caso do estudante Leonardo Moura ganhou grande repercussão na imprensa baiana, além de movimentar a comunidade LGBT, que já articula uma manifestação para a próxima sexta-feira (15), às 18h, em frente à boate San Sebastian. Intitulada de “Chega de LGBTfobia”, a ação está sendo organizada a partir de um evento no Facebook e conta com o apoio de grupos como o Mães da Diversidade, Marcha das Vadias e Grupo da Pesquisa Cultura e Sexualidade.

“Mais um jovem morto, e não pode ser mais uma estatística. Vamos nos reunir no Rio Vermelho (Frente da San Sebastian) e marchar até a Igreja do RV, com palavras de ordem, protestos e performances, para evidenciar que Salvador é uma cidade que mata gays, lésbicas, trans, bis, mulheres cis e demais sujeitos vulneráveis”, diz a descrição do evento.

Diversas entidades também lamentaram a morte do estudante e emitiram nota de repúdio, a exemplo da líder do PT na Câmara Municipal de Salvador e presidente da Comissão de Reparação da Casa, Vânia Galvão. “Mais um jovem é assassinado brutalmente em Salvador por conta de sua sexualidade. Não podemos mais conviver com isso. Ou educamos nossas crianças, adolescentes e demais setores sociais ou vamos permanecer convivendo com episódios desumanos como este”, salientou.

“Faz-se urgente a rigorosa apuração deste crime, para que os envolvidos sejam punidos e a Justiça sirva de exemplo. É um absurdo, e muito triste, ver que crimes como esse ainda ocorrem em nossa sociedade. Solidarizo-me com a família dele [Leo Moura] e com a luta contra a homofobia”, declarou a deputada federal Alice Portugal.

Em nota, o Grupo San Sebastian asseverou que repudia qualquer ação violenta e de preconceito e que continuará fazendo parte do grupo de pessoas e empresas que se indignam com casos como o do jovem, cliente do clube San Sebastian. “Torcemos para que a Justiça seja feita e que os órgãos competentes se esforcem para oferecer à população da cidade condições de segurança a qualquer hora do dia, em qualquer localidade”.

No ano passado, Salvador foi a segunda cidade brasileira que registrou o maior número de assassinatos de LGBTs do país (33 casos), ficando atrás de São Paulo (55). Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), 318 LGBTs foram assassinados em todo o Brasil durante 2015. Um crime de ódio a cada 27 horas: 57% gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais.

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