Doulas comunitárias são exemplo de sucesso no voluntariado

Depois de um ano de implantação, projeto mostra resultados positivos e motiva a participação social

  • Assessoria/HU-UFGD
Catarina Guerchi Nunes​, doula comunitária do HU-UFGD (Foto: Divulgação)
Catarina Guerchi Nunes​, doula comunitária do HU-UFGD (Foto: Divulgação)

Suporte físico e emocional à mulher, exercícios, massagens e outros métodos não farmacológicos para o alívio da dor, presença e atenção contínua, orientação, informação, proximidade, afeto, respeito, empatia, amor. Juntando tudo, é possível definir a essência do trabalho de uma doula, seja ao longo da gestação, durante o trabalho de parto, ou no puerpério, que também é uma fase que requer cuidado e atenção.

Já está amplamente comprovado que o acompanhamento por doulas permite o aumento das taxas de parto normal, reduz o tempo de duração do trabalho de parto, diminui a necessidade de intervenções e de analgesia, aumenta a satisfação com o trabalho de parto, eleva as chances de sucesso na amamentação e reduz os índices de depressão pós-parto.

Em 2013, o trabalho da doula foi incluído na Classificação Brasileira de Ocupações sob o número 3221-35. Há, ainda, propostas para que o trabalho seja reconhecido como profissão, e, nesse sentido, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 8363/17.

Motivados pelas diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH), hospitais da rede pública têm buscado implantar as boas práticas preconizadas pelo Ministério da Saúde para o âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial no que diz respeito à atenção ao parto e ao nascimento. Uma ação nesse sentido é o incentivo à presença de doulas no atendimento às mulheres em trabalho de parto, durante o parto e no pós-parto imediato, ainda durante a internação nas maternidades ou casas de parto.

E nesse contexto, a atuação das doulas comunitárias, que fazem trabalho voluntário, ganha importância também por significar mais participação e controle social no serviço público de saúde. São mulheres de diversas profissões, com formações diferentes, mas com um interesse comum: proporcionar à mulher a melhor experiência possível de gestação e parto, incentivando seu empoderamento e protagonismo.

Trilhando esse caminho, o Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) oferece, desde 2017, o Curso de Formação de Doulas Comunitárias. Com a crescente procura, este ano o Curso passou a ser Projeto de Extensão da própria Universidade. E as inscrições para a terceira turma já estão previstas: serão abertas em fevereiro de 2019.

Para contar um pouco da experiência de quem dedica voluntariamente seu tempo a outras mulheres, a Unidade de Comunicação Social (UCS) do HU-UFGD convidou Catarina Guerchi Nunes, que é publicitária, licenciada em Artes Visuais, servidora pública da UFGD e formada doula comunitária na primeira turma ofertada pelo HU-UFGD. “É importante ressaltar que a doula não realiza nenhum procedimento médico, não faz exames, não discute a conduta médica e não substitui o acompanhante”, comenta a voluntária.

Confira a entrevista completa:

UCS/HU-UFGD - Como é a rotina de trabalho de uma doula comunitária e quais os desafios do trabalho voluntário?

Catarina - Ser doula comunitária é um ato de amor. A gente se doa, mas, principalmente, recebe muito amor. O trabalho é organizado em plantões, e o atendimento é feito à gestante e seu acompanhante dentro do Hospital Universitário da UFGD. Geralmente, o primeiro contato entre doula e parturiente acontece no Centro Obstétrico com a mulher já em trabalho de parto. O HU é a única maternidade “portas abertas” da região, ou seja, recebe parturientes a qualquer hora, vindo de qualquer localidade, com qualquer nível social, cultural, ou origem étnica. E isso que faz com que sejam atendidas as mais diversas mulheres. Por vezes, é um grande desafio, pois algumas gestantes não fizeram pré-natal completo, não têm informação sobre as vias de parto, ou, como já aconteceu, a mulher nem fala o mesmo idioma que nós. Porém, ao final do trabalho, perceber que a doulagem alcançou o objetivo e contribui para que a mulher tenha tido um parto mais tranquilo e especial, é absolutamente recompensador. É o que torna o trabalho voluntário algo muito gratificante.

UCS/HU-UFGD - Quais as diferenças entre o trabalho da doula autônoma e o da doula comunitária?

Catarina - A doula pode atuar de forma comunitária, com esse trabalho realizado em plantões preestabelecidos, dentro do hospital público e de forma voluntária, ou seja, não remunerada financeiramente. E nesse caso, o contato com a parturiente acontece no hospital mesmo, pelo período que dura o plantão da doula. Já a doula autônoma trabalha de forma remunerada e, geralmente, faz um contrato em que é acordado o acompanhamento que será feito à mulher ao longo da gestação, na elaboração do plano de parto, no parto e pós-parto. Nessa situação, a doula pode acompanhar a gestante por meses, o que favorece um outro tipo de vínculo com a mulher. Não que o vínculo estabelecido ali na hora do plantão seja mais frágil, menos forte, ou torne menos eficaz o trabalho da doula. Incrivelmente, por mais rápido ou temporário que seja esse contato, formam-se ali ligações profundas, e muito importantes no contexto daquele momento.

UCS/HU-UFGD - Existem propostas, e inclusive tramita no Congresso Nacional um projeto de Lei, para regulamentar o trabalho da doula como profissão. Essa modificação traria avanços?

Catarina - Acredito que a regulamentação do trabalho da doula é extremamente necessária, tendo em vista a importância dessa função e as experiências positivas já registradas, principalmente o potencial para reduzir o número de cesarianas desnecessárias e a violência obstétrica. A regulamentação profissional faz parte de um processo de lutas, e é fundamental para dar mais evidência a esse serviço e, assim, ampliar o número de mulheres que possam ter contato com essas profissionais. É importante lembrar que o trabalho da doula não se confunde nem substitui o dos demais profissionais da saúde que atendem a gestante.

UCS/HU-UFGD - No dia 16 de outubro deste ano, a Prefeitura de Dourados publicou a Lei N. 4.218, que “dispõe que maternidades, casas de parto e estabelecimentos hospitalares congêneres, da rede pública e privada do Município de Dourados ficam obrigados a permitir a presença de doulas durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, sempre que solicitadas pela parturiente”. Como essa regulamentação impacta a atuação das doulas?

Catarina - A Lei Municipal que assegura o trabalho da doulas em Dourados é uma grande vitória, tanto para a categoria das doulas, como para a população em geral, que agora têm garantido o direito ao acesso a esse serviço, que proporciona tanto bem às mulheres e suas famílias. Com a aprovação dessa lei, Dourados caminha rumo à humanização do parto, para que as mulheres sejam cada vez mais respeitadas, autônomas e protagonistas de seus partos.

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