Dourados teve 16 tentativas de suicídio na população LGBT+ no ano de 2019

A não aceitação dos pais foi motivo para primeira dessas tentativas, ainda em janeiro do ano passado

Seminário sobre suicídio e violência na população LGBTs+ contou com três palestras na OAB (Foto: A. Frota)
Seminário sobre suicídio e violência na população LGBTs+ contou com três palestras na OAB (Foto: A. Frota)

Relatório dos serviços prestados ao longo 2019 pelo Núcleo de Políticas Públicas para o público LGBT+ de Dourados revela que 16 pessoas tentaram suicídio durante o ano passado no município. A não aceitação dos pais foi motivo para primeira dessas tentativas, segundo Cláudia Assunpção, coordenadora do Núcleo. 

“Foram atendidos 16 casos de pessoas LGBT com tentativa de suicídio somente em Dourados durante o ano, o primeiro deles já em janeiro de 2019, quando uma menina trans, de apenas 18 anos, tentou tirar a própria vida devido à não aceitação dos pais”, informou.

Segundo Cláudia, “vivemos ainda hoje numa sociedade marcada por violência, preconceito e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero”. Ela avalia que “apesar dos avanços, das conquistas, podemos presenciar pais que preferem ter um filho ladrão ou bandido a ter um filho/filha homossexual”.

Diante do quadro preocupante, o Núcleo realizou, em setembro, o primeiro Seminário sobre suicídio e violência na população LGBTs+ em Dourados, cujo objetivo foi abordar de que forma é possível trabalhar a prevenção ao suicídio neste público.

Outra ação destaca foi a primeira audiência pública LGBTs+, realizada no dia 17 de maio, na Câmara Municipal de Dourados e que teve como o objetivo levar à reflexão sobre os direitos da população LGBTs+ que habita em Dourados. Segundo o relatório, também foi realizada roda de conversa no pensionato das meninas trans, em parceria com a Polícia Militar e a Guarda Municipal, para tratar sobre a “violência e desacordos entre as mulheres trans profissionais do sexo e os órgãos de segurança pública”.

Um caso de menina trans que sofreu agressão de cliente em motel foi atendido em julho e a pessoa encaminhada para exame de corpo delito e registro de boletim de ocorrência.

A questão da saúde também foi preocupação do Núcleo de Políticas Públicas para o Público LGBT+. Conforme relatório, foram realizadas oito rodas de conversa nos pensionatos das meninas trans, em parceria com o Programa Municipal de IST/Aids, levando informações de prevenção a todas as doenças sexualmente transmissíveis, Aids e Hepatites virais.

Foram realizadas blitz com a equipe do programa de IST nos pontos de prostituição, levando informações. Em maio foi realizada a 3° blitz educativa e preventiva nas principais avenidas de Dourados e no Posto da Base, com materiais de prevenção e preservativos.

O relatório do Núcleo ainda aponta vários atendimentos na área social, como encaminhamentos para Cadastro Único e para solicitação do benefício assistencial da Loas. No Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil (29 de janeiro), houve reunião na Casa dos Conselhos com a participação de 38 mulheres e homens trans e autoridades para discutir avanços e as conquistas do direito ao processo transexualizador pelos SUS, o direito ao uso do nome social também pelo SUS, o exame nacional de ensino médio (Enem) e outras legislações municipais e estaduais.

Em julho houve visita na PED (Penitenciária Estadual de Dourados) para ‘roda de conversa’ com as meninas que estão cumprindo pena. Em novembro foram duas visitas à Unei, para levar medicamentos e para levar um par de muletas para meninas trans em cumprimento de medidas sócio-educativas no local.

Em 29 de agosto, em que se comemora o Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil houve reunião na Casa dos Conselhos com um grupo de mulheres bissexuais e lésbicas para tratar questões da lesbofobia, violência e suicídio. Em junho foi realizado, no Teatro Municipal, o concurso Miss e Mister Diversidade da Grande Dourados.

A coordenação do Núcleo participou de seminários de interesse coletivo, como o Seminário Socioeducativo “novas perspectivas para medida de internação em Dourados”, realizado em outubro, e o Seminário “Acolhimento Familiar, o direito de estar em família”, realizado na Câmara Municipal em novembro, e o 1° seminário sobre violência contra as mulheres LBT, entendendo o Lesbocídio e o transfeminicídio, realizado em  Campo Grande, como parte da campanha “16 dias de ativismo”, em dezembro.

O Núcleo ainda marcou presença na ação social realizada em novembro, na Praça Antônio João, por ocasião da 1° Feira Indígena, e também divulgando ações do Dezembro Vermelho, que trata do Dia Nacional de Luta contra a Aids.

Por fim, Cláudia Assunpção destaca que “após 30 anos de luta, em 2019 o Supremo Tribunal Federal aprovou equiparação de homofobia a crime de racismo. Por 8 votos a 3, o colegiado entendeu que a homofobia e a transfobia enquadram-se no artigo 20 da Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo”. (Com informações da Prefeitura de Dourados)


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