Longe do lixo acumulado, Murilo busca investimento de setor repleto de falências em São Paulo

Prefeito quer fomentar setor sucroenergético na cidade e descondidera crise vivida pelos usineiros

Mau cheiro do lixo acumulado em Dourados parece não incomodar o prefeito Murilo Zauith, que está em São Paulo... (Larissa Batistetti/CeiseBr)
Mau cheiro do lixo acumulado em Dourados parece não incomodar o prefeito Murilo Zauith, que está em São Paulo... (Larissa Batistetti/CeiseBr)

O prefeito Murilo Zauith (PSB) não tem se incomodado com o mau cheiro do lixo que acumula há mais de três dias em frente às casas de Dourados. Enquanto a população sofre com a suspensão da coleta por causa da greve dos lixeiros, o mandatário está em São Paulo, onde conforme a prefeitura destaca o potencial da cidade para usineiros em busca de investimentos do repleto de falências setor sucroenergético.

Informativo divulgado na manhã deste sábado (30) pela administração municipal enfatiza a presença de Zauith na Fenasucro, “maior feira do setor sucroenergético do mundo”. “O prefeito Murilo realizou nesta quarta-feira em Sertãozinho (SP) o lançamento da 4ª Feira Agrometaldo Mato Grosso do Sul. Murilo aproveitou a viagem para manter contato com empresários e divulgar as potencialidades de Dourados”, consta na matéria de divulgação.

LONGE DO MAU CHEIRO

Isso deixa claro que o prefeito está fora da cidade desde o início da greve dos lixeiros. Eles cruzaram os braços por falta de pagamentos. A empresa responsável pelo serviço informa que isso acontece porque não tem recebido os repasses da prefeitura. Na administração municipal ninguém comenta o caso.

Em meio à suspensão da coleta diária de aproximadamente 200 toneladas de lixo domiciliar, Zauith segue indiferente. Como a própria prefeitura tem divulgado, ele mantém o intuito de vender a imagem de uma Dourados em pleno desenvolvimento. Além de omitir os problemas que a cidade enfrenta, busca trazer ainda mais dificuldades.

APOSTA EQUIVOCADA

Ao convidar usineiros para a abertura da 4ª Feira Agrometal do Mato Grosso do Sul, que acontece no próximo dia 4 em Dourados, Zauith incentiva na cidade o fomento de uma atividade econômica que ele mesmo reconhece estagnada. Num suposto otimismo, o prefeito coloca em risco a economia local ao tentar apoiá-la numa equivocada aposta.

“Num discurso otimista, Murilo lembrou o fato de que a estagnação do setor sucroenergético é momentânea. Segundo ele, basta olhar para traz e ver o retrospecto do setor”, destaca a matéria de divulgação da prefeitura. Conforme o material, Zauith ponderou que “é um mercado sazonal; depois de 10 anos bons temos agora uma fase em que o setor sofre um pouco”.

FALÊNCIAS

Reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em março deste ano revelou que “seis usinas de etanol já pediram recuperação judicial”. “De 64 grupos analisados no fim de 2013 pelo diretor do Itaú BBA Alexandre Figliolino, 39 (61%) operam com deficit e 22 não têm mais condições de recuperação, havendo a necessidade de fusões ou aquisições”, consta na publicação.

A própria Udop (União dos Produtores de Bioenergia) reconhece as dificuldades enfrentadas pelo setor. Ontem (29) reproduziu matéria do Jornal O Tempo na qual consultoria MBF aponta, somente no primeiro semestre deste ano, que “sete empresas do setor sucroenergético no país pediram recuperação judicial”. A maior parte dessas usinas em crise está justamente no interior de São Paulo, onde Zauith busca atrair investidores.

MAIS CRISE

O prefeito desconsidera até mesmo a avaliação do diretor da MBF Agribusiness Assessoria Empresarial, Marcos Françóia, que na entrevista concedida ao Jornal O Tempo avalia que “diante do cenário complicado vivido pelo setor, a previsão é que a lista [de falências] possa aumentar ainda mais".

Essa realidade nem é tão distante. Em Dourados, a Usina São Fernando entrou em recuperação judicial. A dívida milionária superior a R$ 1,2 bilhão provocou efeito cascata na economia local, situação em que comerciantes foram afetados com contas não pagas por funcionários e fornecedores da gigante falida. Um grupo dos Emirados Árabes teria comprado a empresa.

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