Produtor da 94fm morto em acidente no final de 2012 é homenageado em carta pelo pai

Alvimar Amâncio da Silva é pai de Alvimar Júnir, o Zéba, que falaceu no dia 14 de dezembro de 2012

  • Alvimar Amâncio da Silva

SAUDADE DE MEU FILHO

Meu filho....neste dia 25 de janeiro seria a comemoração de seu aniversário, seria o completar de mais um ano seu de vida. Embora sabendo que você não irá me responder, lanço minhas palavras ao ar que serão levadas pelo vento e ficarão perdidas no tempo.

Então...quer dizer que  tenho mesmo que admitir, acreditar e aceitar  que você viajou de repente, a aquele tipo de viagem que nunca mais há de voltar!!?

Se eu pudesse, meu querido filho, se o poder sobre isto estivesse ao meu alcance, jamais você teria ido nesta viagem primeiro que eu. Esta troca a faria sem medo, com a maior satisfação daria tudo para estar no seu lugar!

Eu sempre lhe dizia “quando você vem com a mandioca...eu estou com a farinha” ou “ a escola que você hoje freqüenta ,há tempos me diplomei nela”,é verdade que estive na sua frente em muitas e muitas coisas, mas desta vez, justamente nesta que eu sempre imaginei que iria primeiro que você, quis o destino que eu fosse passado para trás e neste mundo dos viventes,lhe perdi para sempre.

Sei que se dependesse de você... você não gostaria de ter ido agora, pois você amava sua família, seu trabalho, seus amigos, o amor de sua vida, e de maneira alguma gostaria de ter nos deixado inesperadamente assim de forma tão trágica.

Como é triste e sofrido não lhe ver mais por aqui, (Meu Deus,que dor horrível!), não receber mais suas ligações, não vir mais mensagens suas no celular e nem ouvir mais sua voz me dizendo: “Pai, o senhor viu um vídeo engraçado no you tube...rsrsrsrs...rachei de rir”, outra hora você me perguntava: “viu só pai, como o meu  São Paulo jogou ontem?”, ou então vinha me falar  das lindas jogadas de Messi no Barcelona, de Cristiano Ronaldo no Real Madrid ou de um belíssimo gol do Neymar pelo Santos e admirado você me dizia:” Pai, aquele golaço do Neymar foi de matar o goleiro!!!”

É... meu filho! não verei mais as “covinhas” no seu rosto ao sorrir clonadas do meu, nem suas risadas, também não lhe verei mais com um boné na cabeça que no início até discordava, mas você dizia que todos seus colegas usavam, que era moda e relembrei que um dia também fui jovem ,usei as modas de meu tempo, e por fim me conformei.

Querido filho...você queria tanto que lhe ensinasse a tocar violão!!! E em alguns finais de tarde sentamos juntos para isto, os primeiros acordes foram iniciados, mas nunca terminaram..., pois a correria desta vida, os desencontros do dia-a-dia, as viagens a trabalho, os cinco anos da faculdade, monografia, pós-graduação, e outras coisas, sempre atrapalhavam, não me sobraram tempo, e agora que começava a folgar, é tarde demais, pois seu tempo junto a nós terminou! (Meu Deus, isto me dói tanto tanto !)

Pensar que você só tinha 21 anos e agora em 25 de janeiro completaria seus 22 anos, e sem poder se despedir , você  na madrugada de 14 de dezembro de 2012 partiu para uma viagem sem volta?

E... eu que naquela noite estava em outra cidade a serviço, dormi tão tranqüilo, tão despreocupado, tão inocente sem saber que antes do raiar do dia, o aguilhão da morte ceifaria sua vida e abruptamente você seria arrancado  de nosso convívio.

Acordei com o celular tocando, ao atender era o mais duro golpe sofrido na minha vida e ainda que não queriam me contar, mas ao me dizerem que teria que voltar urgente, pois algo havia acontecido contigo...senti que você não mais existia.

Foi impossível conter os soluços, a voz embargada, as lágrimas que desciam, e ao retornar para Dourados relembrava que certa vez, tal como agora, eu também estava viajando a trabalho e você tinha apenas cinco anos de idade, foi levado ao hospital e lá o plantão médico decidiu que você tinha que passar por uma micro-cirurgia para extrair um pequeno tumor próximo ao seu umbigo.Você se assustou tanto quando pessoas mais forte lhe seguraram para aplicação de anestesia local,  e você com medo, desesperado, se debateu e gritou à médica que lhe atendia “Doutora, doutora, chama meu pai, ele não está aqui, está viajando e não está sabendo que vocês vão fazer isto comigo não!, Doutora, chama meu pai, meu pai é crente, chama ele doutora pra ele poder orar por mim !!!”.

Meu querido filho...você confiava tantos nas orações de seu pai nas horas difíceis e desta vez nem houve tempo para você pedir isto. Desde criança lhe pus a trilhar nos caminho de Deus, lhe repassei os ensinamentos cristão, a ser obediente a seus pais, respeitar os mais velhos, amar ao teu próximo, e a confiar no poder das orações.

Desta vez sem estar atravessando problemas algum, retornando ao encontro de alguns amigos por uma via preferencial, sua motocicleta foi violentamente abalroada por uma camioneta que te arremessou a quase dez metros de distância, e em sua queda sofreu politraumatismo, vindo a óbito ainda a caminho do hospital e nem sequer houve tempo de clamar pelas orações de seu pai! A rua que se chama Monte Alegre, por ironia nos deixou um monte de infinda tristeza, ali foram seus últimos instantes de vida, ali você partiu definitivamente desta vida nos deixando esta saudade.

O dia em você nasceu, orgulhosamente lhe pus o meu nome e acrescentei “Junior”no final. Era o meu Junior, o Alvimar Junior, Juninho da nossa família, e na sua adolescência um de seus amigos lhe apelidou de “Zeba” e entre eles o apelido pegou. Quando te sepultaram, foi sepultado meu nome e uma parte amável de mim. Filho...não vou ser mais  o mesmo, nunca mais conseguirei ! Meu sorriso apagou, agora sou um homem mutilado, incompleto, com coração despedaçado, pois você não existe mais!

Há um canto triste, fúnebre dentro de mim. A vida desde aquele dia parou, o tempo não passa e as noites são difíceis sem você. A sua última mensagem em meu celular ainda se encontra gravada e dói saber que você nunca mais me enviará nenhuma e nem mais nada em suas dúvidas me perguntará, nem me ajuda solicitará ou vice-versa.

Todos os dias abria os sites dos jornais de Dourados e sempre lia e via as reportagens das vítimas de acidentes e cada vez que via um acidente de moto ia direto meus olhos corriam no nome da vítima com receio que fosse você ou sua irmã mais velha que também tem motocicleta e o dia que nem tive tempo de acessar,a vítima fatal foi você.

Amado filho, sabe o que é não ter forças de ler sequer as manchetes ou qualquer outras notícias que diz respeito a este acidente que lhe vitimou ? Há um nó na garganta sufocando, um punhal ou uma flecha atravessada em meu peito, por isso não li e nem sei quando terei forças para ler. Falaram-me que não puseram foto de você caído no asfalto, nem daquelas coberto com lençol do instante do acidente e sim uma foto linda da página de seu facebook em que você aparece de boné, sorrindo, mas mesmo assim meu filho, até hoje não consigo vê-la ,nem ler a notícia.

Dizem que é só acessar o Google e por seu nome completo, que se lê a notícia do seu último dia de vida, que no seu facebook tem um monte de mensagens lindas postadas pelos seus amigos, que a rádio (94 Fm) em que você trabalhava falou o dia inteiro e fez inúmeras homenagens, mas eu não tive e nem ainda tenho forças de ler ou ouvir nenhuma delas. Perdoe-me filho, mas seu pai é um dos mais fracos homens em momentos como este.

Não tenho palavras para expressar a gratidão para com todos que me ligaram tentando me confortar, a presença daqueles que desde as primeiras horas foram às portas da empresa funerária aguardarem minha chegada, os olhares tristes dos seus e meus amigos mais próximos, a equipe da rádio e sua direção, os meus ex-colegas de faculdade (hoje advogados ), a secretária do nosso curso de direito, os ex-colegas de trabalhos de Telems/Brasil Telecom, meus irmãos e irmãs de fé da Congregação Cristã no Brasil, os meus familiares de Três lagoas e de sua mãe que vieram de Campo-Grande e tantos outros mais que passaram por lá. Cada abraço, cada aperto de mão, cada olhar, eu sentia que se eles pudessem fariam qualquer coisa para não passarmos por esta dor, então o muito que podiam eram  me transmitir forças,pêsames,compartilhando com tristeza esta perca tão grande, desta sua partida inesperada.

Eu achei que esta dor não conheceria na vida! Eu achei e sempre achei que eu partiria primeiro que qualquer um de meus filhos, afinal é o normal da vida que os filhos enterrem seus pais, e não os pais enterrarem seus filhos. Se isto é sorte, ou bem aventurança de alguém, eu não a tive.

Quem sepultou pai, avós, tios, primos, tal como eu já os sepultei sabe que são momentos difíceis, dolorosos, só que são dores diferentes, nenhuma delas se compara a esta dor tão forte como a de enterrar um filho. Só vai entender quão profunda e crucial é esta dor aquele que teve um e o perdeu na infância ou na flor da idade juvenil como lhe perdi que são as fases mais lindas do ser humano.

O momento de seu sepultamento foi o mais difícil de todos. A beira do sepulcro ver você pela última vez, o desespero de sua mãe chorando, falando contigo,abraçada ao caixão não querendo deixar te enterrarem, que até foi obrigado alguém desapartá-la!

As coroas de flores de amigos, empresários, dos meus ex-professores e também advogados, aquela última homenagem que seus colegas de futebol lhe fizeram, todos tocando em uma bola que tantas vezes com eles juntos em um campo você jogou, os aplausos sob choros quando lhe enterraram com os gritos deles nesta hora dizendo : “ Valeu Zéba!!! ” são momentos marcantes.

Após, na saída vários deles vieram ao meu carro com os olhos marejados apertando minha mão e dizendo:”Parabéns pelo filho que o senhor teve”, “ele era especial, por isso Deus não o deixou mais aqui”.  São coisas que até chegar o meu dia de partir desta vida viverão dentro de mim.

Guardarei comigo os hinos sacros:”cidadão dos céus e conserva a paz tem fé ,oh minha alma”, cantados momentos antes do seu sepultamento que em consideração aquele tempo tão lindo de criança quando você comigo caminhava à Casa de Deus, os irmãos da minha igreja momentos antes de você ser sepultado, cantaram.

Filho...você era minha felicidade, meu amigo, meu orgulho,meu fã e eu seu admirador. Em algumas coisas, principalmente na informática, quando eu não sabia algo e que você sabia, você se “achava”, né... meu filho? Coisa linda e gostosa era o sabor de vencer seu pai no conhecimento em consertos ou instalação de programas de computador ! Eu amava essa vaidade sua, este “achismo” seu ! Agora a vida ceifou estes momentos belos de mim!

Por mãos de um motorista alcoolizado (digo isto, porque o mesmo se recusou a fazer o teste do bafômetro e quem não deve não teme), que dirigindo em alta velocidade, desrespeitou a preferencial que você transitava,colidiu violentamente com sua moto e te arremessou a dez metros de distância, o que não suportando os ferimentos e fraturas sua vinda findou.

Tudo é ruim, nenhum lugar está bom, tudo é sem graça, nada está bom sem você. Ainda que eu ache que você se foi tão cedo, mesmo assim sou grato a Deus pelos 21 anos que ele nos deu junto a você. Ter um filho como você foi um privilégio!. Queria mais, é lógico, e qual pai que não gostaria? Foi melhor ter lhe tido, do que nunca ter vivido contigo. Só me arrependo é de não ter tido mais tempo, uma vida melhor, para ter dado tudo o que queria lhe dar e termos desfrutado juntos.

Injustamente, maldosamente fui demitido de meu emprego de 20 anos de trabalho, vivi aos trancos e barrancos, a justiça dos homens tão almejada e esperada, tardou, falhou, e os últimos seis anos foi uma vida sacrificada entre estudos e serviços esporádicos, tudo que os pais fazem é para os filhos ou exemplos a eles, e agora após formado quando chego a uma nova profissão, com todo um horizonte de estabilidade  à minha frente , vem esta fatídica realidade de sua partida. Oh, cálice amargo! Que fel ! E´ como todos  dizem : Só Deus para consolar!

Adeus meu filho! Meu querido Alvimar Amâncio da Silva Junior, a sepultura que escondeu seu corpo é inaceitável e inadmissível, mas é o caminho que todos nós haveremos de ir, você infelizmente apenas partiu na frente. Para onde você foi e está agora, você nunca mais voltará, não mais virá a mim, mas eu sei que um dia irei até você. Eu me sentia orgulhoso em dizer a todos que tinha seis filhos, após sua ida este número lamentavelmente reduziu para cinco.

Se você era meu fã, eu também era o seu. Muitos não sabem, mas você um dia chegou com uns escritos querendo que eu lhe auxiliasse numa poesia sobre o pantanal e daquilo que você trouxe incompleto, admirei sua idéia e vi que faltava algumas rimas para sê-la, lhe pedi licença para melhorá-la, e vendo que você amava a poesia tal qual na sua idade amava,caprichei o melhor que pude.

Nossa, você ficou boquiaberto! Queria publicar, enviar para alguma dupla sertaneja e nunca deixei a menos que fosse só no seu nome, pois o meu não queria que aparecesse, pois a idéia central, principal foi sua. Os versos não rimados eram seus, e eu apenas a melhorei e a enriqueci na minha experiência de vida com o meu linguajar.

Sua humildade era tanto meu filho, que se meu nome não constasse junto você não aceitava, pois julgava que ninguém ia acreditar que você fez aquilo sozinho e por fim ficou engavetado. Perguntou-me se eu era capaz de criar nela uma canção e a fiz para te ver feliz, mas sem divulgação.

Hoje me arrependo de não ter lhe dado o prazer que você queria por eu estar em um estilo de vida diferente, onde a glória e a fama são coisas do passado, obsoletos, pois busco algo mais excelente.

Todavia, ao finalizar esta mensagem quebro esta tradição e para amenizar esta dor que vive a esfaquear e a dilacerar meu peito,encerro este monólogo contigo, com aquele  seus versos por mim lapidados, dizendo a todos nas palavras finais desta mensagem que tive um filho que era um amor de pessoa,que nunca me disse não, que com todo o respeito me chamava de “senhor”, e que se não era poeta, teve dentro de si uma poesia que intitulou como “Pantanal “, cujos  versos são assim :

PANTANAL

De: Alvimar Junior (Zéba)

A todos vou cantar agora, sobre a terra onde moro
Nos braços uma viola, vou falar daquilo que mais gosto
Moro perto de uma serra que existe no pantanal
Meu recanto é uma paraíso, cuja beleza não se vê igual

Passarinhos cantam cedo anunciando um novo dia
É um pula-pula entre os galhos fazendo a maior folia
Um sol bonito avermelhado detrás das matas vai subindo
Colorindo o espetáculo do amanhecer que vai surgindo

No campo canta a seriema, nas matas canta o jaó,
No alto a arara-azul, no meio das folhagens canta o curió
No lago canta o quero-quero, e a perdiz nos cafundós
Quem me acorda na janela cantando bem alto é um galo carijó!

II

Logo assim que me levanto, meu lindo amor já se levantou
Leite com café na mesa e um pão caseiro já colocou
Assim que tomo meu café, ponho meu chapéu, subo em meu cavalo
Ressoando meu berrante,vou pelos campos levar a boaida

Rios de água cristalina, cachoeiras e cascatas...
Em tudo tem a mão de Deus por isto nossa terra é abençoada,
Quando chega a tardezinha, de volta estou ao meu palácio
Meus filhos correndo gritam: “mamãe, chegou nossa papai amado!”

Quando o dia anoitece, a lua aqui vem passear
Violão, vozes, viola, esposa e filhos passam a cantar
As aves que aqui gorjeiam em silêncio ficam a escutar,
Se delas é o show matinal...o show da noite é nosso aqui no pantanal.

FIM

A todos pelo carinho e amizade dispensados ao meu filho que fizeram de sua passagem por esta terra a sua vida feliz, o meu mais profundo agradecimento e que Deus lhes recompense por todo apoio e consolo a mim e toda a família em momento tão difícil como este.

Alvimar Amâncio da Silva é graduado em direito pela UEMS e pós-graduando em direito tributário pela rede LFG/Uniderp-Anhanguera.
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