Em Campo Grande, jovem sobrevive a sete facadas e acusa agressor de homofobia

Vítima diz que assistia a um filme no notebook, quando foi surpreendido pelo autor da agressão

  • Midia Max

“Pessoas como você devem morrer”, foi o que um jovem de 18 anos, disse enquanto esfaqueava o atendente em telemarketing Yoshihissa Shimizu Jr., 23, no último dia 4 (segunda-feira) deste mês, na casa onde da vítima, uma kitinet, localizado na rua da Pátria no bairro Caiçara em Campo Grande. O autor, vizinho de Yoshihissa está foragido.

As facas o atingiram no abdômen, tórax, mão e pescoço. O jovem ficou seis dias internado na Santa Casa, passou por cirurgia, recebeu alta e está bem. Homossexual assumido, Yoshi, como é conhecido entre os amigos, acredita que a motivação seja homofóbica.

O crime ocorreu por volta de 12h40, Yoshihissa estava em casa neste horário, tinha recebido uma promoção de cargo no serviço, foi dispensado, para, posteriormente retornar e fazer um feedback (resposta) com seu supervisor.

“Eu quase não fico em casa, pois estudo o dia inteiro, já que curso nutrição na UFMS integral e das 16:40 as 23:00 trabalho, chegando em casa lá pela meia noite, sempre".

Segundo Yoshi, no dia, o autor foi até a sua casa, e pediu a máquina de lavar emprestada. “Está bem, mas cuida, eu disse pra ele”.

Minutos depois, Yoshihissa diz que assistia a um filme no notebook, quando foi surpreendido pelo autor, que, com uma faca de serra, deu as facadas atingindo abaixo do umbigo, peito, pescoço e mão. Uma das facadas quase perfurou a aorta.

“Eu achei no início que era soco, na facada que ele me deu próximo ao coração, acredito que a faca bateu na costela, quando quebrou. Mesmo assim ele continuava a bater com o cabo dizendo: Sabia que pessoas como você tem que morrer”. Depois do crime, o autor de 18 anos fugiu.

“Voltei engatinhando, não conseguia gritar, sentei na cama e com a mão ensanguentada, eu tentava usar meu celular. Como ele é touch screen, não conseguia ligar, por sorte deu certo depois”, lembra.
Em cinco minutos, a amiga de Yoshi chegou. “Eu não escutava eles batendo na porta, cheguei a desmaiar, quando arrombaram a porta”. Menos de dez minutos o Corpo de Bombeiros chegou ao local.

No boletim de ocorrência, feito pela Polícia Militar e, posteriormente lavrado pela Polícia Civil, consta que outro vizinho, um adolescente de 16 anos, escutou barulhos no quarto da vítima. Ao olhar pela janela, viu Yoshi ensanguentado e agonizando, momento em que acionou o Corpo de Bombeiros.
Logo depois, a esposa do autor chegou, e disse a PM ter encontrado com o marido que estava com marcas de sangue e um machucado na mão.

O caso está registrado como lesão corporal dolosa no boletim de ocorrência, o delegado Valmir de Moura Fé do 6° DP, contou que em dez dias, um laudo sobre a gravidade dos ferimentos da vítima, pode mudar a qualificação para tentativa de homicídio.

Vizinhos

Yoshi, jovem comunicativo, conta que nos quatro meses de convivência com o vizinho, e pelo fato de ficar pouco tempo, na casa onde morava, quase não tinha contato com o rapaz.

“Eu tenho uma forma carinhosa de tratar com as pessoas, a única conversa que tivemos foram sobre coisas informais para quebrar o ‘gelo’ entre vizinhos, como por exemplo, se precisar de erva para tomar tereré, ou como foi mesmo no caso da máquina de lavar”, conta.

Ao ficarem sabendo, a dona de casa Terezinha Moura Silva, 58, mãe de Yoshi, que mora na cidade de Sinop (MT), e o pai, o aposentado Yoshihissa Shimizu, 65, residente em Juara (MT) , vieram a Campo Grande, onde estão próximos do filho.

“Foi um desespero quando ficamos sabendo, a gente sente muito, como um ser humano é capaz de tentar tirar a vida de outro”, diz a dona Terezinha.

“A sorte dele, em primeiro lugar foi a mão de Deus, e depois, por conta da faca que não corta na ponta, pois poderia ser pior”, diz o pai Yoshihissa.