Educação sexual em casa pode ampliar vacinação contra HPV

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Quem perdeu a primeira dose da vacina pode se dirigir a um posto de saúde para tomar (Agência Brasil)
Quem perdeu a primeira dose da vacina pode se dirigir a um posto de saúde para tomar (Agência Brasil)

O Ministério da Saúde anunciou na quinta-feira, 10 de setembro, que já está disponível a segunda dose da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) para meninas com idade entre 9 e 11 anos. Mas, afinal, como abordar a necessidade de imunização contra uma doença sexualmente transmissível com garotas nessa faixa etária, que ainda não iniciaram a vida sexual?

“Se nós vamos vacinar essas meninas, seria interessante se elas tivessem sendo orientadas sobre o sentido dessa vacinação, sobre a proteção que estão recebendo”, alerta a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Na primeira etapa da vacinação em 2015, menos da metade do público-alvo compareceu às unidades de saúde em todo o país. Há uma certa dificuldade dos pais e dos educadores em convencer as adolescentes a se vacinarem e também o medo de eventuais efeitos adversos da vacina.

Quem perdeu a primeira dose da vacina, pode se dirigir a um posto de saúde a qualquer momento para tomar. A segunda dose, no entanto, deve ser tomada após seis meses da primeira. E a terceira, após cinco anos.

Segundo a psiquiatra do Hospital das Clínicas, é essencial contextualizar a importância da vacina contra o HPV para as adolescentes, apresentando informações claras sobre sexualidade, não só para cumprir aquela necessidade imediata da vacinação.

“Uma informação solta, avulsa e sem contexto fica muito vaga e muito difícil de assimilar. Não dizer nada também é algo que a criança não vai aceitar”, diz a médica.

Questões familiares e religiosas são um desafio para ampliar a cobertura da vacina. Há o receio de que, conversando sobre o HPV, a vida sexual seja iniciada precocemente. Na realidade, segundo Carmita, ocorre justamente o contrário.

“Já tem estudos comparando quem teve orientação sexual e quem não teve e os resultados mostram que as crianças que foram orientadas têm muito menos iniciação sexual precoce do que as que não tiveram orientação. É um equivoco imaginar que a criança vai ficar estimulada. Se ela está perguntando é porque a curiosidade já existe”, explica.

Carmita diz ainda que o estímulo precoce ocorre justamente quando se abre espaço para a criança buscar informações sobre sexualidade em outros canais, como a internet. Sem reduzir a importância da rede, a psiquiatra diz que, nesse canal, a criança e o adolescente podem entrar em contato com mais estímulos do que se fossem devidamente orientados por pais e educadores.

“Se eu não respondo à pergunta, eles buscam  a informação de forma aleatória, entram em contato com muitos estímulos e podem acabar sendo incitados de forma negativa.”

Pesquisa

Um levantamento conduzido na cidade de São Paulo pelo laboratório Merck, Sharp & Dohme ouviu garotas de 13 a 24 anos e mães de meninas e mulheres dessa mesma faixa etária. A pesquisa verificou que o diálogo entre mães e filhas sobre sexo ainda é precário. As principais vias de informação sobre sexualidade para adolescentes são escola, ginecologistas e revistas femininas.

O conhecimento sobre o vírus HPV e suas consequências foi restrito às meninas e mulheres que têm amigas que já tiveram a doença. De um modo geral, as adolescentes têm pouca informação sobre o HPV e o assunto está distante da sua realidade, segundo a pesquisa.

Nesse levantamento, para as entrevistadas (tanto mães como filhas), as DST’s não são uma preocupação, pois não se consideram pertencentes ao grupo de risco. Para elas, as DST’s estão associadas principalmente à Aids e, por isso, não se preocupavam com o contágio.

Nesse contexto, a psiquiatra critica o modelo de educação sexual baseado em metáforas e informações obscuras. “O que mais percebemos são meias palavras, informações cifradas, metáforas. Você percebe que é difícil adultos falarem com crianças e adolescentes sobre sexo com a mesma tranquilidade com que conversariam com outro adulto.  Com uma criança, as pessoas ficam tão pouco à vontade que não falam de forma aberta, não dão as informações de um jeito compreensível, acessível, o que mobiliza insatisfação com a resposta.”

O vírus HPV

O papilomavírus humano é contagioso e pode ser transmitido pelo contato com a pele ou a mucosa infectada. A principal forma de transmissão é por via sexual, mas também pode ocorrer o contágio entre mãe e bebê durante a gravidez ou o parto. Compartilhar roupas íntimas e toalhas também pode transmitir o vírus.

Os principais sintomas são lesões na pele ou mucosas e, em alguns casos, pode ocorrer o aparecimento de verrugas genitais. Nas mulheres, se não tratadas, as lesões podem evoluir para câncer de colo de útero, que hoje é a quarta causa de morte feminina no Brasil, atrás apenas do AVC.

A vacina é dada em meninas entre 9 e 11 anos por ser maior a resposta imunológica nessa faixa etária.

Segundo a clínica de vacinação Cedipi, a resposta imunológica verificada em crianças e adolescentes menores de 15 anos é excelente, pois há um pico de anticorpos nessa idade, tanto em meninos como em meninas.

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