Palco de violento ataque com morte, fazenda em Caarapó deve ser desocupada por índios em 20 dias
Juiz federal expediu ordem de reintegração de posse da fazenda Yvu, onde um índio morreu e seis ficaram feridos a tiros

Palco do violento ataque que deixou um índio morto e seis feridos no dia 14 de junho, a fazenda Yvu, em Caarapó, deverá ser desocupada pelos garanis-kaiowá em 20 dias. A determinação é do juiz Janio Roberto dos Santos, titular da 2ª Vara Federal de Dourados, que atendeu pedido de reintegração de posse feito pela dona da propriedade, Silvana Raquel Cerqueira Amado Buainan.
Expedida na quarta-feira (6), ordem judicial prevê que a Funai (Fundação Nacional do Índio) tome “todas as medidas para a remoção/deslocamento da comunidade indígena para área adequada” e documente “cada ato seu nesse sentido e fazendo prova em juízo, no prazo de 05 (cinco) dias após os 20 (vinte) dados para a desocupação”.
Se não atender essa determinação, a Funai terá que pagar multa diária de R$ 50 mil, outros R$ 1 mil pelo presidente nacional da Fundação, Artur Nobre Mendes, e R$ 500 pelo coordenador regional em Dourados, Vander Aparecido Nishijima. O montante será direcionado a proprietária da fazenda.
Foi nessa propriedade rural vizinha à Aldeia Te' Ýikuê que teve início o mais recente e um dos mais graves conflitos fundiários de Mato Grosso do Sul. Ocupada por indígenas no dia 12 de junho, a fazenda foi retomada por ruralistas no dia 14, como reconheceu a proprietária no processo. Ela não detalhou, contudo, o ataque a tiros que deixou um índio morto e seis feridos, crime investigado pela PF (Polícia Federal), mas que ainda não resultou em qualquer punição para acusados.
Esse violento ataque, que foi seguido a agressão de três policiais militares por índios, foi mencionado pelo juiz federal no despacho. Ao reconhecer o direito de propriedade da fazendeira, o magistrado pontuou por ao menos três vezes que “não justifica as notícias de excessos praticados pelos proprietários contra os indígenas, com uso de arma de fogo, tendo como resultado de feridos e morte, o que deve ser apurado em investigação criminal”.
Essa situação gerou um clima de guerra em Caarapó. Diversas forças de segurança pública foram deslocadas ao município para negociar com os índios, que permaneceram ao menos dois dias com as armas tomadas dos militares agredidos. Já o indígena morto no ataque armado à fazenda foi sepultado no mesmo local em que houve o crime.