‘Peladão’ da UFGD conta com exclusividade à 94FM as motivações e objetivos da sua arte

Stélio Constantino Barbosa tem 21 anos e é acadêmico do último ano de artes cênicas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados)

  • Alexandre Duarte

Na noite de ontem (31), um acadêmico do curso de artes cênicas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), chamou a atenção de todos ao ficar nu nas dependências da instituição e afixar cartazes de protesto, principalmente, com teor anti-moralista. O protagonista em questão é Stélio Constantino Barbosa, de 21 anos, aluno do último período do curso. (veja matéria com as fotos da intervenção).

Em conversa com a reportagem da 94FM, Barbosa explicou que o ato de ontem faz parte de uma sequência de intervenções que irá realizar na UFGD. Ele explica que o trabalho de forma geral se chama ‘InterrogAÇÃO’, uma iniciativa independente, sem apoio/vínculo com a instituição.

O objetivo, segundo o acadêmico, é promover o questionamento através da arte, assim como, mostrar até onde a arte toca nas pessoas e o que ela pode fazer para fomentar a imaginação e a criatividade. Barbosa diz que não afirmar nada através da sua mensagem e que prefere que a interpretação seja livre.

“A ação de ontem se chama ‘Menos é Mais’, e é apenas a primeira das cinco que vou fazer. As três primeiras já estão formuladas. As duas últimas eu deixei em aberto para as pessoas poderem sugerir temas”, explicou.

De acordo com o artista, chocar e instigar a imaginação e o senso de julgamento é um dos papéis da arte. O acadêmico esclarece também que as suas intervenções são frutos de questionamentos internos que ele torna público na forma manifestações artísticas. “Um ponto interessante da intervenção é que a mensagem continua mesmo quando a ação termina. Os cartazes permanecem lá e as pessoas continuam comentando por algum tempo o que viram”, complementou.

Outras ações

Apesar de ter virado notícia em Dourados na noite de ontem, Barbosa já é conhecido em outros lugares do Brasil e inclusive do mundo. Meses atrás, em viagens por diversas cidades de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Pernambuco, apresentou em praça pública a intervenção ‘SobreSaltos’, em parceria com o colega Nizael Almeida.

A ação consistia em andar normalmente pela rua, com trajes tipicamente masculinos, porém, com um adereço que destoava do conjunto, um salto alto envolto em adesivos do tipo ‘durex’. “As pessoas naturalmente ficavam chocadas. Mas em face do ‘falso respeito’ quase ninguém me falava nada, quem ouvia os comentários dos mais variados era o colega que me acompanhava tirando as fotos”, disse.

Com a ‘SobreSaltos’, Barbosa questiona o que é ser homem e qual o conceito de homem para a sociedade. “Com intervenção eu possivelmente plantei na cabeça das pessoas algumas dúvidas. Pois eu sou homem usando salto? Posso ser mulher usando roupas masculinas e tendo braços e pernas com pelos? Posso ser travesti mesmo não tendo seios?”, afirmou.

Sobre a repercussão mundial, Barbosa foi clicado por um repórter da agência de notícias internacional Reuters, sobre a intervenção 'SobreSalto' na época em que o papa Francisco visitava o Brasil. Como a interpretação é livre, Barbosa explica que a foto foi divulgada no exterior como sendo uma protesto contra os dogmas da igreja.

Motivações

Uma das grandes inspirações do jovem é o grupo ‘DZI Croquettes’, formado por 13 homens, que na época da ditadura criticava o sistema através das artes, mas de uma forma que os militares não conseguiam captar o verdadeiro teor da mensagem.

“Tive a oportunidade de conversar com um dos integrantes do DZI. Foi uma conversa muito enriquecedora. O grupo apesar de não ser muito conhecido inspirou muitos outros artistas. ‘As Frenéticas’, por exemplo, surgiram à partir de inspirações no trabalho do DZI”, contou.

Outro detalhe relatado pelo acadêmico, é que a sequencia de intervenções ocorre de forma mais intensa neste período do ano, início de abril, dias que antecedem seu aniversário, comemorado no dia 06.

O artista

Stélio Constantino Barbosa tem 21 anos, é natural do município de Jardim, mas antes de mudar-se para Dourados residia em Aquidauana. Ele encontrou no curso de artes cênicas a janela que precisava para dar fluidez à sua criatividade.

E questionado sobre as perspectivas profissionais para os futuros artistas em Dourados e região, Barbosa foi categórico ao afirmar. “A profissão de artista é como toda qualquer, se você ama vai conseguir ganhar dinheiro com isso em qualquer lugar”, finalizou.

Foto: Alexandre Duarte (94FM)