Pernas inquietas são confundidas com ‘tiques’ de ansiedade

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Tratamento. Dispositivo Relaxis é usado para tratar a síndrome (Reprodução / Facebook)
Tratamento. Dispositivo Relaxis é usado para tratar a síndrome (Reprodução / Facebook)

Aos olhos de muitas pessoas, o frequente balançar das pernas pode ser erroneamente interpretado como uma manifestação de ansiedade, tique ou mania, mas, na verdade, esse pode ser o principal sintoma de um distúrbio neurológico que acomete entre 5% e 10% da população adulta do país – a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) – e que precisa ser tratado.

O que vai distinguir uma situação de ansiedade da patologia, segundo a vice-coordenadora do departamento científico do sono da Academia Brasileira de Neurologia, Rosana Cardoso Alves, é que a SPI é uma sensação incômoda que provoca uma irresistível vontade de mexer as pernas, e cujo desconforto geralmente se manifesta próximo ao horário de sono.

“Os primeiros sintomas costumam aparecer entre os 15 e 25 anos, mas, na maioria dos casos, piora mesmo depois dos 35 anos. É mais frequente em mulheres, e é comum ter outras doenças do sono associadas”, afirma Rosana.

A SPI também tem uma influência genética muito forte. De acordo com informações da Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas (Abraspi), pesquisas já determinaram que os genes do cromossomo 12 ou 14, dependendo da família, são os responsáveis pela síndrome. Além disso, quase 25% dos pacientes podem ter seus sintomas causados ou agravados pela utilização de outros medicamentos – como antidepressivos – e pelo consumo de álcool e café.

Não há exames laboratoriais que confirmem o diagnóstico, mas eles podem ser feitos para afastar outras doenças do sono e uma possível deficiência de ferro, que pode estar associada à doença. Por isso, o diagnóstico é feito com base na história clínica e na descrição dos pacientes.

“Nos períodos de crise, tinha a sensação de que ia enlouquecer. Pensava: hoje não durmo, vou pular até parar, vou dar socos na perna... Mas, depois que passei a fazer caminhadas, as crises diminuíram”, conta a professora Fernanda Moraes, 40, que começou a notar o sintomas aos 20 anos e possui histórico familiar da doença.

Após a avaliação médica, e se descartadas outras causas secundárias, a neurologista assegura que o exercício físico leve é uma das formas de tratamento. “Também orientamos o paciente a ter uma higiene do sono mais adequada. Alongamento e massagem ajudam, e, em alguns casos, a medicação é necessária”, diz Rosana. Se não tratada, a síndrome pode prejudicar a qualidade de vida do paciente por causa dos reflexos da insônia.

Almofada que vibra é opção aos remédios

Um dispositivo chamado Relaxis é o único tratamento não medicamentoso autorizado pela agência de vigilância sanitária dos EUA (FDA) para a Síndrome das Pernas Inquietas. O aparelho é uma almofada que fornece vibrações cronometradas, destinadas a contrariar a estimulação do próprio corpo. O fabricante relata que o dispositivo é tão eficaz quanto os medicamentos, mas não há estudos independentes que confirmem as taxas de sucesso. Informações: myrelaxis.com

Depoimento “Eu ainda não tenho o diagnóstico fechado da Síndrome das Pernas Inquietas, mas meu médico supõe que seja. Para fechar o diagnóstico, eu vou fazer alguns exames de sangue, mas, para tentar amenizar os sintomas, o médico disse para eu exercitar as pernas, fazer caminhadas, natação, coisas desse tipo. Essas pernas me incomodam desde a época da adolescência, só que depois da gestação piorou. O que sinto são movimentos involuntários na hora que relaxo para dormir. Com isso, desperto muitas vezes. Minha qualidade de vida está comprometida. Tenho muita oscilação de humor e muito sono de dia. É realmente muito cansativo.” Vivian Borges, 39 Professora Curitiba (PR)

Flash Dados. Pesquisas feitas no Canadá e nos EUA indicam que apenas de 15% a 23% dos portadores da Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) são corretamente diagnosticados.

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