Pesquisas sobre Aids no Brasil não mostram panorama adequado

Especialista explica que faltam elementos mais precisos como informações sobre infectados pelo vírus HIV

  • Sociedade Brasileira de Medici


Pesquisa mostra que o número de casos de Aids está concentrado nas grandes cidades, tendo diminuído no Sudeste e aumentado no Norte e no Nordeste do Brasil

A diminuição da mortalidade por Aids no Brasil em 10 anos, quando passou de 6,3 pessoas por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2011, conforme o Boletim Epidemiológico HIV-Aids, pode mascarar uma realidade que ainda não foi identificada pelas pesquisas.

“No País, ainda não há um banco de dados consolidado com informações sobre os infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, em inglês), apenas de notificações da doença”.

É o que explica o membro da Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (Cnaids) pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), onde é vice-presidente, Dr. Aluisio Segurado .

O número de casos de Aids está concentrado nas grandes cidades, tendo diminuído no Sudeste e aumentado no Norte e no Nordeste do Brasil, segundo a pesquisa Geografia social da Aids no Brasil: identificando padrões de desigualdades regionais , publicada em fevereiro deste ano na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. De acordo com o Dr. Segurado, este é um cenário preocupante, mas a situação pode ser diferente ou até mesmo mais grave.

“O trabalho é importante porque atualiza o mapeamento da epidemia no País. No entanto, a metodologia do estudo é totalmente baseada em casos da doença.

Elementos mais precisos só seriam possíveis a partir de dados de infecções recentes pelo HIV e ainda não temos isso em escala nacional”, explica.

O médico esclarece que o crescimento da rede de atenção à doença em todo o Brasil é um dos aspectos que explica o aumento do registro de casos, especialmente em localidades onde houve melhoras na estrutura dos serviços de saúde.

“Em Santarém/PA, por exemplo, o primeiro centro de testagem foi aberto mais de dez anos depois dos primeiros inaugurados na região Sudeste.

A epidemia chegou realmente mais tarde no Norte, mas não havia muitas condições de identificar a enfermidade. Hoje, com serviços melhor estruturados, está vindo à tona esta população doente que até então passava despercebida”, ressalta.

Para reduzir o número de casos nas regiões mais críticas, é necessário ampliar a difusão dos testes de HIV e oferecer medicamentos antirretrovirais imediatos aos portadores do vírus, de acordo com o Dr. Segurado.

“Antes se esperava certo prejuízo do sistema imunológico para iniciar o tratamento, enquanto agora o paciente inicia o processo imediatamente.

Além dos benefícios ao indivíduo infectado, a ação diminui em 96% o risco de transmissão do vírus para outras pessoas. Com isso, começamos a diminuir a circulação do HIV pelo País”.

O especialista acrescenta que é preciso haver uma articulação entre as redes de atenção especializada e as básicas para que seja feito o diagnóstico precoce, não apenas nas regiões Norte e Nordeste, mas em todo o Brasil.

Grupos de risco

Além da estruturação dos serviços de saúde, outras ações devem ser feitas simultaneamente, como as direcionadas aos grupos de risco. Recente estudo feito em São Paulo mostra que cerca de 15% dos homens que fazem sexo com homens e frequentam a região central da cidade de São Paulo estão infectados pelo HIV.

“Esse percentual é 30 vezes superior ao da prevalência na população brasileira em geral, que é de 0,5%. Ou seja, há uma grande concentração da infecção.

É preciso ações rápidas de diagnóstico e tratamento com essas pessoas para reduzir a disseminação do vírus”, observa

Outros nichos apontados pelo especialista e que devem ter atenção especial são os de prostitutas, usuários de drogas (não apenas injetáveis, mas outras como o crack) e jovens. “Este último grupo também deveria ter acesso maior a testagem.

Os adolescentes não viveram nos momentos mais críticos da epidemia e percebe-se certo relaxamento na prevenção. Falta mais orientação para esse público”, finaliza.

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