Telefone faz 145 anos: brasileiros contam histórias sobre o aparelho

Saiba como o telefone mudou rotina de trabalhadores brasileiros

  • Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Graham Bell levou a fama e o dinheiro. Meucci, o reconhecimento tardio da invenção. Mas é com Cleonice, Roseli e Lúcia que a história do telefone é recontada diariamente. É por esse aparelho que brasileiros com diferentes profissões contam uma história que começou há 145 anos, quando foi feita a primeira comunicação oficial, por Alexander Graham Bell, em 10 de março de 1876.

O escocês era considerado o inventor do telefone até uma reviravolta em 2002, quando se reconheceu oficialmente o italiano Antonio Meucci como o verdadeiro pai da ferramenta. Em 2021, o tom de discagem continua ativo, com direito à nostalgia dos tempos das centrais telefônicas e orelhões e com a facilidade dos sinais digitais que fazem de tudo - até mesmo uma ligação.

“Telefonista, faz um DDD”

Roseli Cipriani também tem uma casa na roça, mas trabalha diariamente em frente à Praça José Bonifácio, no centro do município de Bragança Paulista. Quando criança, a servidora pública da prefeitura estava acostumada a acompanhar seus pais ao centro da cidade em busca de uma chamada interurbana bem-sucedida.

“Enquanto eles faziam compras na cidade, eu ficava no posto da Telefônica para esperar a chamada.... Às vezes demorava duas horas pra conseguir falar em São Paulo. Por volta de 1975 até 86, foi assim.... ligações interurbanas só no posto ou quem tinha o privilégio de ter uma linha fixa em casa." No caso de sua família, esse privilégio chegou apenas em 2000, quando tinha 34 anos. Assim, pode, finalmente, ligar para fora da cidade sem sair de casa.

O posto a que ela se refere ficava no prédio do Museu do Telefone (🔎 conheça sua história ), antiga Companhia Rede Telephonica Bragantina. A empresa foi instalada no local em 1908, mas virou o primeiro museu do telefone do Brasil em 28 de outubro de 1976. Por dez anos, coexistiram museu e o posto de interurbano. “O posto era no primeiro andar. Com a abertura do museu, o posto subiu e o acervo desceu para o térreo”, lembra Roseli.

Em agosto de 2019, a prefeitura de Bragança Paulista comprou o museu da Telefônica. Ele foi o primeiro do tipo a abrir no Brasil. Lá estão expostos os aparelhos mais antigos, a mesa da telefonista com os cabos de conexão e várias curiosidades sobre a história das telecomunicações.

Roseli conta que, se pudesse, preferiria viver somente conectada ao telefone fixo, apoiada por cartas, e sem tantas parafernálias tecnológicas. Mas é de um celular, usando um aplicativo de mensagem instantânea, que consegue se comunicar com a reportagem.

“Sabe, tenho um pouco de dificuldade para entender essa tecnologia.... O telefone pra mim é uma das maiores invenções da humanidade. Hoje é a ferramenta de trabalho de praticamente boa parte de profissionais como você! Sem sair de casa, neste momento tão difícil que estamos vivendo.... Você trabalha, se conecta com o mundo... Se vê pela câmera de um aparelho celular ..... Quem não acompanha essa evolução ficou parado no tempo”, explica.

Atualmente, o município de Bragança Paulista está na Fase Vermelha da pandemia e Roseli precisa do sinal de telefonia e dos dados móveis mais do que nunca. Ela atua como monitora do Museu do Telefone. “Para minha surpresa, um dia minha chefe me disse para substituir uma pessoa de lá. Foi uma experiência maravilhosa.” Já são 15 anos assim, diante de aparelhos cheios de números, estudantes e adultos curiosos. Mas agora, sem público presencial, ela presta assistência pelo trabalho remoto (home office), ao lado de vacas, galinhas, fogão de lenha, terreiros de terra batida e, claro, do aparelho celular. “Sim, eu moro na roça de verdade...” Mas em uma roça devidamente conectada, ou nem tanto: “Minha internet desaparece aqui na roça". Pausa: “Lá se foi o sinal. Caiu de novo!”

Chamada a cobrar

Se você pudesse fazer uma chamada ao futuro para perguntar como anda a evolução do telefone, o que você imaginaria ouvir como resposta?

Em busca de previsões, Cleonice, Roseli e Lúcia enxergam que a grande invenção já está presente: o celular com internet. "A gente aperta ali, acabou de fechar a boca, a pessoa já tá respondendo a gente bem rapidinho, mas acho que vão vir coisas mais avançadas ainda no celular.”, diz Cleonice.

No caso de Lúcia, ela afirma que a idade e os avanços dificultam um pouco. “Os idosos têm dificuldade de apertar um botão ali, aqui. Agendar vacina, INSS é difícil. No meu caso, fui entrando nas novas tecnologias quase que automaticamente. Mas prefiro estar com as pessoas, adorava quando tinha a revista impressa”. Cleonice também concorda que a tecnologia tem ajudado a diminuir o contato humano. Para o futuro, ela não duvida que um dia nem aparelho existirá. "Seremos chipados", ri digitalmente com vários "kkk" para acompanhar.

Enquanto o futuro não chega para tirar à prova as previsões, o passado continua preservado tanto nas memórias de Cleonice, Lúcia e Roseli, quanto em museus e reportagens. Em junho de 2011, o videorrepórter Rodrigo Leitão entrevistou o sexagenário Hélio Forte. Na época, aos 66 anos, Hélio vendia, comprava, consertava, restaurava e também fabricava telefones com design original ou réplicas sob demanda. A trajetória de Hélio mostrava o quanto sua paixão e vaidade com os aparelhos o havia transformado em um “mestre dos telefones”.

"Os primeiros telefones, de 1880, 1890, vinham muito arrebentados. E meu prazer era restaurar e aprender também, porque mexendo você ficava conhecendo as peças...Hoje eu sou considerado um dos melhores do Brasil", disse o restaurador na ocasião da entrevista. 

Infelizmente, seu Hélio faleceu em 2015 e sua loja em São Paulo foi fechada permanentemente. "Ele já saiu daqui para outro plano. Não deixemos de agradecê-lo de alguma forma", comenta Rodrigo, na expectativa de que o vídeo que produziu possa contribuir com a memória e homenageá-lo postumamente.


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