Cabral dava mesadas de até R$ 100 mil para os pais e a ex-mulher, diz delator

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O delator Carlos Miranda disse que o ex-governador Sérgio Cabral dava mesadas que chegavam a R$ 100 mil a sua ex-mulher Suzana Neves e o mesmo valor a seus próprios pais. O dinheiro era repassado pela empreiteira FW, que prestava serviços ao estado, propriedade de Fernando Werneck, amigo de longa data de Cabral. Miranda prestou depoimento ontem (18) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

"O combinado era R$ 100 mil [para Suzana Neves]. Ele dava uma mesada para os pais, que chegou a R$ 100 mil. Para a irmã, Cláudia, R$ 25 mil. Para os dois filhos, era R$ 10 mil para o mais velho e R$ 5 mil para o mais novo", disse Miranda, que era responsável pelos pagamentos, vindos da empresa FW. O nome do deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB), filho mais velho do ex-governdor, não foi citado, a pedido de Bretas, por ele ter foro privilegiado. Miranda, segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), era o operador financeiro de Cabral, encarregado de recolher e entregar dinheiro do esquema criminoso do grupo.

O dono da empreiteira, Flávio Werneck, confirmou, em depoimento prestado em seguida, que realmente entregou recursos ao grupo de Cabral. Segundo ele, tratava-se de um percentual de 5% sobre diversas obras feitas por sua empresa ao estado, além de uma taxa de 1%, denominada de "oxigênio". Werneck calculou que, ao longo dos anos, chegou a pagar entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões em propina.

A ex-mulher de Cabral também foi ouvida e negou que recebesse mesada de até R$ 100 mil. Ela disse que os valores mensais variavam de R$ 30 mil a R$ 40 mil e negou saber a origem ilícita dos recursos. "Eu não tinha motivo para desconfiar do Sérgio", disse ela, que está separada dele faz 21 anos. A denúncia do MPF também informa que a FW realizou diversas obras em casas de Suzana, mas ela negou saber que a empresa prestava serviços ao estado.

Cabral foi o último a ser interrogado e sustentou que o dinheiro recebido da FW não era propina, mas sim caixa 2 para campanhas. E que ele combinou com Werneck para apoiar sua família financeiramente, para direcionar esses recursos. Ao final do depoimento, Cabral, visivelmente emocionado, lembrou que está preso faz 13 meses e que este será o segundo Natal que ele vai passar longe da família. "Eu tenho buscado em Deus forças para estes momentos tão difíceis. Que a gente acorda e não sabe como. Mais um Natal fora de casa, sem meus filhos. Deve ter um sentido nisso", desabafou Cabral.

Segundo o advogado Rodrigo Roca, que defende o ex-governador, as mesadas que seriam pagas por Cabral, segundo o delator Miranda, carecem de provas. "Ele disse que não tem prova nenhuma disso. Um dos requisitos para validar a delação premiada é justamente o elemento de corroboração. Mas o Carlos Miranda quer que se acredite somente na sua palavra. Daí a isso ser prova suficiente para uma condenação, tem uma distância muito grande", disse Roca, à saída da audiência.


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