As cesarianas no Brasil

  • Mazé Torquato Chotil
As cesarianas no Brasil

Bom dia!

O correspondente do Jornal “Le Monde” no Brasil, Nicolas Bourcier, em artigo do dia 24 de abril último se espanta com os números de cesarianas praticadas no Brasil: 85% dos nascimentos nas clínicas (93 % no Rio de Janeiro) e 40% nos hospitais públicos, quando a OMS - Organização Mundial de Saúde preconiza uma média de 15%, que seria a taxa necessária para realizar os nascimentos com complicações. Na França esse número é de 19%.

Há trinta anos, fiz uma matéria, e pelo que me lembro, a taxa da época era de 70%, algo já alarmante. A questão que vem em seguida é “por quê?”. A resposta que me deu um médico na época, que trabalhou na França, seria instituir no Brasil o jeito francês: formar as parterias “sage-femme” que passam por formações de medicina de mais de três anos e são as que ajudam no nascimento nas maternidades e hospitais. As parteiras ficam à disposição dos nascimentos, não o contrário.

O jornalista do Le Monde constatou que as futuras mães têm dificuldade em encontrar médicos para lhes ajudar a dar a luz naturalmente. Cita Lucina que fez apelo a uma associação que defende a prática de nascimentos normalmente, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, que lhe delarou que o Brasil vive uma epidemia de cesarianas e chama a atenção que tal ato efetuado sem necessidade, multiplica por três o risco de mortes no nascimento e por 120 a possibilidade de problemas respiratórios na criança.

E então, por que se faz? A ANS – Agencia Nacional de Saúde, em resposta ao jornalista, diz que 70% das mulheres grávidas desejam parir naturalmente, mas mudam de ideia no primeiro trimestre. Querem aproveitar da tecnologia e têm medo da dor, ideias inculcadas de que o natural não é bom, que é preciso tecnologia, que a cesárea seria mais seguro. O ministro da saúde tem trabalhado a fim de mudar esses preconceitos.

Por outro lado, os médicos, sobretudo nas grandes cidades, ocupam vários postos e correm todo o tempo, diz Desiré Callegari, do Conselho Federal de Medicina. “Uma cesariana dura uma a duas horas enquanto um nascimento por vias normais pode ultrapassar seis horas. A remuneração feita pelos serviços de saúde seria quase idêntica. Fala-se da falta de profissionais: os médicos acabam programando as cesarianas durante os dias em que têm certeza de contar com a equipe completa. Espanto meu !

Ou seja, estamos repondendo uma questão de grande importância para a mãe e a criança, segundo critérios econômicos e de comodidade, o que é inaceitável para o ministro da Saúde, segundo o artigo do Le Monde. Ele diz querer mudar rapidamente a prática. Uma boa ideia. Entretanto, nesses últimos 30 anos os números aumentaram!

O Estado deve propor condições para que a população possa escolher, em conhecimento de causa. A minha questão é: como é que em duas gerações passamos da forma natural de dar à luz a nossos filhos à esta aberração em que a cesariana virou um « bem de consumação » ? Minha mãe deu à luz naturalmente a oito filhos. Claro, na floresta onde nasci na 7ª linha, município de Dourados e depois Glória, nos anos 50, não tinha médico nem maternidade, sua vizinha, madrinha Izulina, se improvisou parteira e eu nasci, forte e sadia, no interior da floresta. Se tivesse havido uma complicação, poderíamos ter morrido, ela e eu. Tivemos sorte, não foi o caso.

Quando chegou minha vez de parir minhas duas filhas, num mundo com todas as tecnologias à disponição, que aprecio, procurei informações. A maternidade do meu bairro no Hôpital Pierre Rouquès, Les Bluets, dita maternidade dos metalúrgicos, pois foi criada pela central sindical CGT, inspirada nos métodos russos, desenvolveu o que se chamou popularmente de « parto sem dor », método desenvolvido pelo médico Lamaze, em 1952, quando era o responsável da maternidade aberta em 1947.

O que é esse método ? Sem falar que a futura mãe era recebida mensalmente pelo médico que verifica tudo que tem que ser verificado em matéria de saúde da criança e da mãe, existe uma série de explicações dadas em sessões mensais. Na primeira, fala-se das modificações no corpo da mulher, como e o que acontece, o desenvolvimento do bebê até o nascimento. Tudo acontecendo de forma natural depois de séculos e séculos. Por vezes, existem complicações, razão pela qual se aconselha de parir numa maternidade que tenha toda a estrutura para fazer uma cesariana em caso de necessidade. Somente em caso de necessidade.

Várias possibilidades de parto são apresentadas, a natural, onde a parteira dispõe de toda a equipe médica para assistir mãe e filho no momento em que o bebê escolher para vir ao mundo. É a parteira, formada para tal, que é a responsavel pelos nascimentos. O parto sem anestesia em primeiro lugar, com anestesia, ou cesariana para os casos em que houver riscos para a mãe ou o bebê.

Escolhi o parto natural, sem anestesia. Se minha mãe teve oito filhos naturalmente eu também seria capaz de tal façanha, ainda mais privilegiada, pois teria toda a infraestrutura em caso de perigo e as sessões de informação.

A primeira reunião de preparação ao nascimento passada, outras seguem, com médicos, parteiras, fisioterapeutas que explicam as mudanças pelas quais o corpo vai passar e como o nascimento acontece… Sobretudo a respiração, um dos pontos chave do método. Ou seja, aprender a respirar para o fazer nos momentos das contrações que vão fazer nascer o bebê. Um método de parto sem dor baseado no conhecimento que a futura mãe tem do seu corpo, do que vai acontecer com ele no momento de dar a luz, e de como respirar nos momentos das contrações, levam a um parto natural melhor para a mãe e o bebê. A mãe consciente em todos os momentos sente tudo, aprecia os momentos dessa relação inicial com o bebê.

Tive duas filhas, portanto, com partos normais, sem anestesia. Na oportunidade, a maternidade estava refazendo seu filme de apresentação dos diferentes partos às futuras mães e filmou meu segundo parto, que ficou fazendo parte da formação de novas mães, na primeira sessão de preparação.

Bom final de semana !

 

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