As coisas da mente e os cadeados « do amor »

Não sei mais quando eles começaram a se proliferar em Paris e em suas pontes. Sobretudo nos últimos 5 anos? São chamados “cadeados do amor”. Um casal – em geral, de turista – fixa em algum lugar da ponte um cadeado e joga a chave fora para simbolizar o amor “inquebrável”. São tantos os turistas e os cadeados, que muitas pontes estavam – e ainda estão – com riscos de cair. Aliás, alguns pedaços de pontes caíram.

E a prefeitura de Paris ficou com aquele dilema sobre o que fazer. A cidade é uma das mais visitadas do mundo, recebe uma quantidade importante de turistas. O que fazer face ao símbolo, mas com o peso dos objetos, visto a quantidade, que ameaçam o patrimônio público, um patrimônio antigo, artístico? Eles ameaçam as estruturas das pontes, monumentos históricos...

Decidiu-se por substituir as estruturas por outras com placas de acrílicos de forma a impedir que eles sejam fixados.  Uma das primeiras a serem substituídas foi a da Pont des Arts. Nesta quarta, pelo final da tarde, passendo pelas imediações da Notre Dame, na ponte atrás da igreja, vi em uma delas que já substituiram de um lado e estão trabalhando do outro lado. Não podendo utilizar as pontes, o que está sendo feito? Se encontra cadeados em muitos lugares, onde se tenha uma grade, algo que possa ser fixado, como na foto.

Sempre vendo esses cadeados me perguntava o que os casais têm na mente. Por que tantos os tinham fixados? Nunca pensei enquanto turista em algum lugar do mundo fixar cadeados num lugar distante de onde moro. Por outro lado, o desejo que o amor dure para sempre é importante, mas ele é inquebrável se a gente não faz nada para que ele continue a existir. Por que não guardá-lo na mente dos dois, alimentá-lo todos os dias? Por que tem que mostrá-lo dessa foram? Na verdade, não se mostra nada, já que ninguém vai ver quem colocou tal cadeado. Que importância esse “amor-cadeado” vai ter para milhões de pessoas que vão passar sem olhar?

Outra coisa que me incomoda nestes cadeados é o fato que eles são fabricados do outro lado do mundo, chegando por aqui de barco, ou pior, de avião, poluindo o ar do mundo inteiro. Prefiro guardar meu amor ao outro no meu coração, regando-o todos os dias com o parceiro, de forma que ele possa durar, mas sem fazer pomessas que não sei se vou poder cumprir. Que o amor fique nos nossos corações!

Bom final de semana.