Caminhadas

  • Mazé Torquato Chotil
Caminhadas

Caminhar, como faz o poeta, para extravasar o que ele nem sabe direito o quê. Mandar para fora o que lhe atormenta no interior de si mesmo. É assim que ela se sente hoje. Tem vontade de andar, cansar o corpo, porque deve sentir que no final de cada caminhada, fica mais próxima dela mesma. Teriam seus passos largos, ritmados, vivos, o poder de encontrar caminhos, que não sabe explicar como, para o que considera problemas? Certamente.

Se sente numa encruzilhada. Que caminho seguir? Que decisões tomar? Mal-estar físico. Como sempre nestas ocasiões, tem vontade de abandonar tudo. Encontrar o paraíso, o lugar onde nada lhe aborrecerá, ninguém a incomodará.

Bolsa quase vazia nas costas para não carregar peso, sai. Nunca sabe quanto tempo levará, nem o momento em que estará de volta. Tem consciência da grande liberdade que tem. Respira fundo e começa a caminhada. Para onde ir? Não se pergunta, como se os pés estivessem acostumados a ir para um certo lugar. É só se deixar guiar.

Naturalmente, encontra o ritmo. Não muito rápido, mas suficientemente ritmado para que a adrelanina saia. Calçadas, chão de terra.... o horizonte. Pensa em tempos da infância, lembra que gostava de pensar que era uma indiazinha. Cabelos pretos, escorridos, olhos negros, não se parecia muito com seus irmãos mais claros, até de cabelos loiros. Devia ser índia, de uma daquelas tribos existentes não muito longe de casa, que deveria ter perdido os pais por uma razão qualquer e seus “pais de adoção” a teriam pega para criar. Imaginava tantas coisas naquela idade!

Pensa que, naquele momento, é uma indiazinha, que tem liberdade, que vai onde quer, que não tem horários, nem compromissos, nem trabalho ou a falta dele. O mundo lá fora não existe, mesmo se tem que ter cuidado com os farois vermelhos da rua, os carros que passam, até chegar no “seu” parque onde são as árvores, o verde, os sons dos passarinhos ou dos homens que se misturam nessa hora matinal.

Bom final de semana!

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