Marcas do tempo

  • Mazé Torquato Chotil
Marcas do tempo

Já está acostumada a se olhar no espelho e constatar o trabalho do tempo. A medida que ele passava, as mudanças eram visíveis no seu corpo. O tempo das rugas foi o primeiro, depois os fios brancos... Acha normal as mudanças, mesmo não querendo que elas chegassem, e rapidamente. Depois, veio a fase dos pequenos problemas de saúde. Nada muito grave, porém uma vez mais marcas do tempo: a aparição de joanete no pé. Só prestou atenção porque o sapato lhe incomodava. De “repente” aquela saliência óssea que se forma na articulação na base do seu dedão do pé, estava lá! Ela tomava consciência. O médico consultado lhe disse que era coisa que poderia aparecer com a idade em certas pessoas.

Foi ainda o médico que a ajudou a se preparar mentalmente para a artrite nos dedos das mãos. Sim, ela já tinha visto o fenômeno em muitas pessoas, inclusive no seu pai, o que queria dizer que fatalmente iria acontecer com ela. Uma inflamação das articulações, um tipo de reumatismo de origem desconhecida, porém sabe-se que envolve fatores genéticos, orgânicos, ocupacionais e ambientais. Pode doer, causa deformidade e dificuldade nos movimentos. Teve sorte, não sentiu muitas dores, percebia que algo estava acontecendo e os dedos mudando aos poucos de posição. Sempre fez ginástica e anda muito. Pensa que é um fator de saúde e que a ajuda no dia a dia.  Sem falar da preocupação com a alimentação. Depois, teve que brigar com as gorduras que se intalaram aos poucos e que parecem gostar do ambiente ondem vivem pois não parecem ter a intenção de partir. Também não são tantas, pensa.

Agora, com mais de 85 anos, é o futuro que deve preparar. Como continuar a viver até o final com todas suas capacidades físicas e mentais? Se preocupa com o que come, continua a fazer sua ginástica duas vezes por semana, mas outro dia caiu. Não quebrou nada, mas teve que ficar um certo tempo sem poder caminhar corretamente, precisando de ajuda para fazer os trabalhaos de casa e para tomar ducha. Ficou insegura. Agora, voltou ao normal. Eu a vejo de vez em quando no bairro. Cruzei com ela no começo da semana, mas não a cumprimentei. Tinha sua bengala que usa para lhe ajudar na insegurança de cair. Olhava atentamente o chão coberto de folhas amarelas do outono. Não quis distraí-la, para que não perdesse o equilíbrio.

Bom final de semana!

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