Nos traços de um ídolo

  • Mazé Torquato Chotil
Nos traços de um ídolo

Num artigo anterior falei da cantora brasileira morta em Paris no começo de julho, Maria d'Apparecida, cujo corpo se encontrava do IML e deveria ser enterrado como indigente, se não fosse reclamado pela família. Maria não teve filhos e pelo jeito perdeu o contato com a família brasileira. O consulado está cuidando do assunto. Nesta época de férias por aqui tudo é muito lento.

Então, ontem, decidi obter mais informações, já que não tive resposta à mensagem enviada ao serviço encarregado do assunto. Liguei para o instituto médico legal. Depois de duas tentativas, já que por aqui tem poucos funcionários, visto que os cortes nos orçamentos são realidade, consegui falar com alguém e fiquei sabendo que o corpo ainda estava lá. Não podiam me fornecer informações sobre sua morte, onde morava, e tudo que gostaria de saber, já que não faço parte da família. Tinha que entrar em contato com a polícia do bairro onde morava, o 16ème se quisesse ter conhecimento das informações do dossiê.

Tentei. Várias vezes, sem resposta. Se respondessem acho que também não poderiam me informar, já que, como disse, não faço parte da família. Então, dei uma olhada na lista telefônica - que tem cada vez menos pessoas inscritas -, e tive a sorte de encontrar, com o seu nome de nascimento, Maria Marques, um endereço e um número de telefone. Liguei na esperança de que alguém pudesse responder. Mas quem, se vivia sozinha, sem família? Que esperança? Essa que a gente sabe que não vai dar em lugar nenhum, mas termina se "enganando".

Fui até o local. Não longe da avenida Champs Elysées. Prédio fechado e eu sem código! Esperaria alguém sair ou entrar, de forma a poder adentrar o imóvel e falar com a zeladora. Dou sorte, tem uma casa comercial no térreo. Entro. Pergunto se saberia me dizer se a zeladora do prédio estaria.

- Não, está de férias.

E a Maria, a conhecia? Uma senhora de 81 anos, mulata?

Não. Mas me convida a ver se o nome dela estaria na caixa do correio do prédio. Sigo-a. Após ter feito o código para abrir a porta do prédio, nos dirigimos às caixas de correio. Tem uma Marques, porém, Isabel, e o lugar de habitação é o da casa da zeladora! O nome da zeladora está na caixa ao lado. É o nome da antiga, que se aposentou ano passado. A nova tem outro nome e está de férias.

O que fazer? Boa pessoa, a comerciante me dá o endereço do síndico. Ela tinha o número de telefone da zeladora que uma vez aposentada voltou ao seu país, Portugal, mas não o encontra. Vai ver se localiza. Devo ligar dentro de dois dias a fim que ela me forneça o número de telefone.

No dia seguinte tento falar com o síndico que não pode me passar informação sobre a nossa cantora falecida. Devo escrever uma carta. Por mensagem vale? Sim. Escrevo em seguida e espero resposta.

Não sei como Maria d'Apparecida morreu. Se em casa durante a noite, ou se estava doente e internada em um hospital. Espero saber mais sobre esta artista que nasceu em 17 de janeiro de 1936 e me questiona sobre a velhice e a solitude.

Bom final semana!


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