O que fazer com as desigualdades?

  • Mazé Torquato Chotil
Foto: Reprodução
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Duas informações chocantes ligadas ao Brasil nesta semana aqui em Paris: a vinda de Neymar para o PSG e a morte de Maria d'Apparecida. A primeira informação é uma transação milionária do clube Espanhol de Barcelona com o de Paris, conta o recebimento de 222 milhões de euros, cerca de R$ 812,6 milhões, o que faz do jogador brasileiro o mais caro do mundo em todos os tempos, nos seus 25 anos! Claro, a gente sabe que jogador não tem carreira longa, que o garoto é bom de bola. Mas tem muitos profissionais bons por aí, e que não recebem tal salário! Imoral digo.

Contrato milionário para um clube dito parisiense, que foi comprado pelos sauditas. Não existe mais pátria, moral, mas dinheiro, dinheiro, dinheiro! Me lembra os mercenários que trabalham para quem é capaz de pagar o melhor preço. Não importa se é para matar alguém de sua própria família!

Face a esta informação, recebi a segunda: Maria d'Apparecida, que não conhecia, morreu dia 4 de julho e seu corpo estava no Instituto Médico Legal de Paris, à espera de familiares. Se ninguém se manifestasse, iria ser enterrada como indigente. Maria d'Apparecida, quem é? Brasileira do Rio de Janeiro, cantora lírica, que passou para a música popular brasileira depois de um acidente em meados dos anos 1970. Andou divulgando a cultura musical brasileira por aqui e pelo mundo, por muitos anos. Agora, com mais de 80 anos, seu corpo esperava por um reconhecimento para não ir para a vala pública, como Mozart. Alertada, a Embaixada Brasileira está cuidando do assunto.

A BNF - Biblioteca Nacional Francesa tem documentos sobre ela que se chamava Maria Marques e estudou no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro e no Conservatoire national supérieur de musique de Paris. A BNF registra 12 discos dela. Entre outros « Cantos brasileiros", "brasileiríssimo", "O canto da vida", "Cores Brasil", "Homenagem a Manuel Bandeira" e "Maria d'Apparecida canta o Brasil".

Maria d'Apparecida, cuja mãe era professora, recebeu uma educação burguesa, com cursos de piano, de dança e de canto no Conservatório do Rio de Janeiro. Após um prêmio de canto, foi convidada, a primeira brasileira, para a Ópera de Paris. Em 1965, cantora lírica, interpreta a "Carmem" de Bizet. UmaCarmemnegra, e ela se orgulhava de ser negra. Uma Carmem provocante, atrevida que continha a negritude da mulher brasileira, e particularmente, da mulher carioca. Um triunfo segundo a imprensa francesa, de direita e de esquerda, que saúdam com entusiasmo, "uma das melhores Carmem do mundo" que lhe deu o prêmio "Orphée d'Or",em 1967.


Em dezembro de 1974, estava num táxi que não respeitou o sinal vermelho, o acidente foi inevitável. Hospital, várias operações no olho, compromissos anulados... Teve que abandonar o canto lírico. A música popular brasileira ganhou uma grande intérprete. Se casou, em 1977, com a música de Baden Pawell, grande nome da época. Gravou, fez muitos shows, andou divulgando a cultura brasileira pela França e mundo. Foi vista em programas de rádio, televisão... entre outros no "Grand Echiquier" de Jacques Chancel, um importante programa de música. "Quaquaraquaqua" é uma das canções que marcaram o público francês.

Grande, simples e atlética; modesta ou orgulhosa? Se perguntava a jornalista Katia D. Kaupp, no artigo que escreveu para a revista Nouvel Observateur, em julho de 1977, quando a entrevistou no seu apartamento de três cômodos em um belo imóvel do 16, bairro chic da cidade.

Vou tentar saber mais sobre esta que tanto divulgou a cultura brasileira e pelo que parece não morreu em berço de ouro.

Bom final de semana!

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