Por que fazemos filhos?

  • Mazé Torquato Chotil
Por que fazemos filhos?

Poderia ter me casado e tido filhos aos 14 anos! É! A minha geração que está quase chegando aos 60, não tinha muitas outras perpectivas, que a de continuar o ciclo das gerações anteriores. Sem questionamentos, casavam e procriavam. Mas alguns foram estudar fora. Eu não via a vida sem ir mais adiante nos estudos. Eles me levaram para São Paulo onde a idade do casamento e dos filhos era mais tarde. Tinha tantas coisas para descobrir na cidade grande! Os estudos terminados, no começo dos anos oitenta, pelos meus vinte anos. Mas ainda não estava na hora de procriar, queria conhecer o mundo antes.

Somente no final dos meus vinte anos, quando as coisas estavam um pouco estabilizadas na vida de alguém que muda de país, de continente.... veio a necessidade de pensar em filhos. Necessidade, coisa forte, que a gente nem sempre pergunta “por quê?” “Para que?”. O que este desejo significa? Necessidade visceral do homem de conservar sua espécie?

Feito os filhos, passamos ao estatuto de família, o tempo de cuidar, de aprender com os aprendizados deles. Babar na frente dos seus primeiros passos, das primeiras palavras, das primeiras leituras... como um tutor, estar lá, ajudá-los a crescer em todos os sentidos, a amadurecer, respeitando suas diferenças, suas ideias, mesmo se muito diferentes das suas. Nem sempre coisa fácil!

Temos medos das violências desse mundo, do futuro que se anuncia com problemas de desemprego... desejamos que cresçam sem se machucar. As vezes os cobrimos muito, não desejando que tenham as mesmas dificuldades que tivemos. Mas aprender é fazer você mesmo! Eles precisam ter os suas próprias experiências.

Aos 18 anos, época de ir para a faculdade, aqui na Europa é comum que os filhos se mudem para estudar onde vão fazer faculdade, uma diferença cultural em relação ao Brasil. É um momento importante para que o filho continue seu amadurecimento, seu aprendizado para se transformar numa mulher ou homem adulto. Aprendem a se virar com a organização da vida, dos estudos, mas também do dia a dia, com as compras de casa, a limpeza.... Novas descobertas para eles e para nós pais.

E para aprender esta nova vida, nos vemos menos. Felizmente, tem agora skype, telefone, mensagem... Mas sinto falta de uma época em que estávamos juntos, sentia a família próxima fisicamente. Espero agora o ciclo de ser avó, esperando que a família cresça e o calor humano seja maior.

Bom final de semana com as cores do outono parisiense que vai embora deixando o espaço ao inverno.

Arquivo Pessoal
Passeio de domingo passado na beira do Sena, vendo a Ponte des Arts e o Pont Neuf em seguida
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