Seu sol, sua vida

  • Mazé Torquato Chotil
Seu sol, sua vida

O sol ilumina seus braços que, no passado, foram morenos pois recebia-o diariamente, naturalmente. Ela pensa que, agora, a falta dele, os braços, e o corpo todo, estão « desbotados ». Pensando nisso ela ri interiormente porque faz uma associação de idéias, lembra o amigo de pele quase branca, cabelos pixaim como se dizia quando era criança, se referindo às pessoas de origem negra. Ou ele tem “cabelos ruins”, como se houvesse ruim ou bom em ter cabelos de uma forma ou de outra. Temos o que temos e é muito bom! A expressão do amigo, para dizer que não tinha tomado sol, que estava branco, mas como não tinha pele branca, o seu “desbotado” para ele era “rosa choque”. Riam os dois.

Os anos passaram. Ela o perdeu de vista na megalópolis paulista quando cada um foi fazer a sua faculdade e ninguém pensou em trocar número de telefone que, na época, quase ninguém tinha, e muito menos endereço. Iam-se e vinham-se...

Agora, ali, no trabalho, ela gosta de degustar todo o sol que pode receber nestes dias de primavera com cara de verão, ao lado da janela onde sua mesa de trabalho está instalada, ao contrário dos que podem tomar sol o ano todo e que por isso, evitam seu contato.

Seu sol é sagrado, ninguém tasca, somente ela quando muito forte, ao meio dia, “arde” o braço e ela não tem outro jeito a não ser o de abaixar as persianas. Um pouquinho só. Desde que ele passa para o outro lado, ela as sobe, o pouco que foi fechado. Gosta da clareza, de ter a possibilidade do olhar vagar fora, longe. Mesmo se o tempo é pouco para sonhar acordada no trabalho. Sua colega, para se proteger e bem enxergar a tela, mantém sempre abaixadas as persianas das duas grandes janelas do seu lado.

Tem a impressão de estar dentro de um caixão de morto se tudo estiver fechado. Ou seja, se sente fechada para a vida que esta lá fora. Por que se constroem prédios com janelas grandes atualmente? Não é para aproveitar o máximo a luminosidade, ao ponto de nem precisar utilizar a luz elétrica? Fechar tudo e ter que ligar a luz dentro é um paradoxo para ela. Como uma flor, ela precisa de luz. Sol é vida, faz brotar vidas, a esperança...

 

Então, sol ou cinza neste final de semana?

 

Mazé Torquato Chotil

Comentários
Os comentários ofensivos, obscenos, que vão contra a lei ou que não contenha identificação não serão publicados.