Tarde de domingo na festa da música

  • Mazé Torquato Chotil
Tarde de domingo na festa da música

Dia 21 de junho, início do verão, é tradição francesa de festejar a música, com a Fête de la musique. Neste ano, a festa caiu no domingo passado. Como de hábito, ela aceita todo tipo de música e em lugares diferentes: nas ruas, nos bares, nos museus... Cada um organiza sua participação e fornece as informações aos organizadores de forma que o público possa se informar, no site do Ministério da Cultura dedicado ao evento. Tem também os que não informam nada e improvisam algo num lugar disponível. O evento não é só parisiense, mas nacional.

Músicas com instrumentos, sem caixa de som é o que nos agrada, sabendo que mais de 85 decibéis o som é nocivo para os tímpanos, nos ensurdece. Escolhemos então, no domingo à tarde, um grupo de música barroca no museu nacional Eugène-Delacroix. O grupo propunha um passeio musical ilustrando o mito de medéia.

Como o museu é no centro de Paris, decidimos ir de bicicleta. Temos assinatura do Vélib’, sistema da cidade de bike. A dificuldade foi encontrar duas disponíveis, já que o dia de festa e o sucesso do uso de bicicleta na cidade deixaram vazias várias estações em vários pontos da cidade. Tivemos que andar um pouco antes de encontrar dois velocípedes livres. Prazer enorme circular com este meio de transporte. Paris é uma cidade mais para plana. De onde moro temos um pequeno relevo de forma que em direção do centro, da parte mais velha da cidade, nas imediações do Sena, temos uma leve descida.

É um grande prazer andar por ai dessa forma. Por esta época, temos os pés de Tílias, essas árvores, cuja flor é utilizada para fazer chás para acabar com resfriados e ajudar a dormir, que exalam um perfume raro. Não posso deixar de levantar o nariz para ir sentindo o cheiro por onde elas estão plantadas.

Deixamos a biccleta em uma estação do lado direito do Sena que atravessamos no meio dos turistas. Se perder no passado dessa cidade, atravessar a Ile de la Cité, Ilha da cidade, é formidável. Uma vez do outro lado, passando por ruas estreitas e seculares, encontramos a entrada do museu no número 6 da Rue de Furstenberg, num lugar onde uma praça simpática isola o local do mundo. Passei muitas outras vezes na frente quando passeava no local, porém nunca tinha entrado no museu para ver as obras, coisa sempre prometida mais sempre deixada para depois! É que a cidade tem um certo número de museus: 213 me diz uma pesquisa feita na lista telefônica local.

Entre pinturas e música, o prazer foi duplo. Fomos direto para a sala “aleliê”, uma peça que se tem acesso pela entrada do museu que foi o apartamento onde morou o pintor, tranformado em museu no começo do século passado quando em 1929 correu um boato que o ateliê seria demolido. Para impedir seu desaparecimento com a criação de uma garagem, os pintores e historiados especialidstas de Delacroix decidiram constituir uma “associação dos amigos de Delacroix” a fim de alugar o ateliê e o jardim. Depois, veio a criação do museu, hoje nacional.

No ateliê cheio de gente, uma voz soa acompanhada de um cravo (instrumento existente antes do piano), uma viola da gamba e uma guitarra barroca. A voz agrada os ouvidos, os olhos após prestar atenção ao grupo, passeiam pelas paredes onde obras preciosas de Delacroix (1798-1863) nos chamam a atenção.

Para mim, uma das obras mais conhecidades dele é “A liberdade guiando o povo”, La Liberté guidant le peuple, pintada em 1830, que se encontra no museu do Louvre. Um quadro sobre os dias revolucionários de julho de 1830, que colocaram fim ao reino de Charles X e do período dito « Restauração »:

 

Depois do prazer da música, tivemos o de ver o jardim do ateliê do artista. Como no passado, um quadrado de verde dentro no conjunto do prédio residencial. Tarde ensolarada. Sentados ou deitados, o público aprecia a arquitetura do lugar ou simplesmente o raio de sol.

Na saída, a visita do museu que não é assim tão grande, pois é apenas um apartamento onde morou o artista, nos proporciona o conhecimento da vida e de obras de Eugène Delacroix. O Museu também possui um serviço de documentação sobre o pintor.

Assim, entre música, pintura e história passamos nossa tarde que não acabou ali. Continuou com a procura de uma bicicleta para a volta, exercício mais fácil que na ida. Seguimos em direção do nordeste, onde moramos. 25 minutos depois, cansada de pedalar, deixamos a bicicleta em outra estação. Para o nosso prazer, vizinha da Ordem dos arquitetos franceses, de onde um bar cubano se ouvia música brasileira. Parada obrigatória! Vimos e ouvimos uma jovem cantora brasileira de bela voz acompanhada de um grupo. Pagode, tradições de carnaval... Soube depois que se tratava do grupo Mistura fina.

Bom final de semana