Trabalhadores brasileiros exilados durante a ditadura

  • Mazé Torquato Chotil
Trabalhadores brasileiros exilados durante a ditadura

Apresento, nesta quarta, dia 27 de maio, meu livro fruto de uma pesquisa na EHESS - École des hautes études en sciences sociales sobre o exílio de trabalhadores brasileiros durante a ditadura, que em francês leva o titulo « l’Exil ouvrier : la saga des Brésiliens contraints au départ (1964-1985) », ou seja “O exílio operário : a saga dos brasileiros forçados a partir”. Será na sede da CFDT - Confédération française démocratique du travail, uma das grandes centrais sindicais francesas.

Sob a direção de Afrânio Garcia, nesta pesquisa/livro estudei o exílio de trabalhadores operários, empregados, camponeses, militares de baixa patente e sindicalistas. Entre eles, os que fizeram as greves de 1968 em Osasco- SP e em Contagem-MG, tais como José Ibrahim, presidente do sindicato dos metalúrgicos de Osasco e Imaculada Conceição da diretoria do Sindicado dos Metalúrgicos de Contagem em Minas Gerais, Derly José de Carvalho, militante cassado do Sindicato dos metalúrgicos do ABC, Ferreirinha quadro metalúrgico do Rio de Janeiro, ou empregados como Denise Peres Crispim ou Francisco Roberval Mendes.

A amostra de 127 exilados tem Ana Gomes, que após ter vivido seu exílio entre o Chile, Suécia e França, feito seu doutorado em Paris, se instalou em Campo Grande onde trabalhou mais de 23 anos como professora universitária, antes de se aposentar. Duas outras famílias passaram pelo estado do MS, na região da Colônia Agrícola de Dourados: a família de Washington Alves da Silva, que morou no período de 1954 a 1961 e a família de Aderval Alves Coqueiro, sobretudo a mulher Helena e as filhas, que passaram cerca de um ano num sítio entre Fátima do Sul e Glória de Dourados.

O trabalho procurou analisar trajetórias menos conhecidas que a de homens políticos, de intelectuais e de estudantes. Buscou compreender as experiências de exílio político de cada um deles, seus itinerários antes e depois da partida, as palavras que eles restituem e as dificuldades que enfrentaram no dia-a-dia, sobretudo os obstáculos socioculturais encontrados no exterior. E no retorno à pátria, o que puderam construir, as dificuldades enfrentadas num país que os anistiou, mas que ainda vivia sob uma ditadura militar e em crise econômica.

Se o exílio representou perdas, existiram ganhos, como a abertura de horizontes, a possibilidade de se formar nas universidades europeias, a realização de conexões entre sindicalismos: brasileiro, francês, europeu e mundial. Eles se beneficiaram da solidariedade internacional, do apoio do Chile de Allende, da CFDT francesa...

Homens e mulheres, banidos ou exilados que para fugir da repressão ou para acompanhar seus familiares, seguiram o caminho do estrangeiro, deslocando-se pela América do Sul ou permanecendo próximos da fronteira, sempre na expectativa de retornar ao país. Militantes que também encontraram no Chile de Salvador Allende, a oportunidade de ajudar e aprender com a construção do socialismo. O Golpe de Pinochet os obrigou, porém, a uma nova partida, França, Suécia, Itália, Portugal... transformando o exílio numa experiência cada vez mais longe de casa.

A edição da obra contou com a contribuição da Fundação de empresa Syndex e da CFDT. Na espera da tradução em português, a edição francesa pode ser adquirida junto à Editora Estaimpuis: www.editionsestaimpuis.com por E-mail [email protected] ou ainda na FNAC francesa http://www.fnac.com/. Página no facebook https://www.facebook.com/exilouvrierbresilien