Volta ao campo com orgânicos

  • Mazé Torquato Chotil
Volta ao campo com orgânicos

Meus pais, nos meados dos anos 50, eram agricultores e vivam no Nordeste. Foram para o Mato Grosso, o do Sul atualmente, em busca de terras para cultivar na área da CAND - Colônia Agrícola de Dourados. Assim, nasci no final daqueles anos, quando a floresta ainda dominava a área e as pesticidas que apareceram depois da segunda guerra mundial ainda não tinham mostrado suas caras no lugar. Depois se popularizou e no mundo inteiro, enchendo bolsos de empresas multinacionais, e empestando os solos do mundo inteiro.

Minha geração foi para a cidade estudar, a procura de vida fácil, onde o salário caía no final do mês, a condição de ter emprego. A das minhas filhas – de cerca de 20 anos –, para a qual desemprego é coisa do cotidiano e aposentadoria algo de inalcançável, está voltando à terra aqui na França. Uma das minhas filhas, com mestrado em desenvovimento sustentável, e sem nunca ter cultivado, decidiu se dedicar à agricultura orgânica, juntamente com seu namorado. Passou mais de ano sabático em formações e por sítios de produção desses produtos a fim de aprender a cultivar. Lê muito, participa de associações, de grupos de pressão...

Desde fevereiro moram numa dessas casas de mogois chamada Yurt, utilizando energia solar, banheiro seco, numa cidadezinha do Oeste da França. Alugaram a casa e um pedaço de terreno de um proprietário que também cultiva orgânicos e aluga outra parte a um outro produtor. Estão colocando em prática seus aprendizados. Utilizam as técnicas da permacultura[1] forma de cultivo que respeita a natureza nos seus métodos de planejar, plantar dentro de sistemas de escala humana socialmente justos e financeiramente viáveis.

Não são os únicos jovens que estão voltando ao campo que começou a se desertificar por aqui depois da segunda guerra. A preocupação com o meio ambiente e com uma alimentação sadia tem aumentado por aqui. Encontramos produtos orgânicos em todos os supermercados, feiras e lojas específicas. As grandes redes de distribuição criaram lojas à parte. Mas outras são específicas, vendem somente produtos orgânicos. Esses têm a particularidade de pertenter a acionários ou pessoas que querem ocupar um mercado de orgânicos em plena expansão.

Uma outra rede de mercados específicos, que prefiro para minhas compras, é a Biocoop, uma rede de lojas que funcionam em forma de cooperativas, onde cada loja é de um proprietário diferente, mas participam da mesma central de compras. Sua política é também a de distribuir produtos de época, de comprar de produtores próximos, de forma a não poluir com o transporte, e de pagar um preço correto ao produtor.

O que quer dizer que o cliente deve pagar um preço mais importante pelos produtos. Estou de acordo porque prefiro comprar produtos de qualidade e permitir que o produtor tenha o que merece pelo trabalho que forneceu. Não precisamos consumir mais que o necessário, mas de qualidade, de forma a não me intoxicar com produtos utilizando pesticidas.

A produção de orgânicos tem todas as instituições de controle, é uma economia em crescimento. Para se ter uma ideia, abaixo um gráfico da evolução da produção, publicado no site da Agence française pour le développement et la promotion de l’agriculture biologique[2]. Mesmo em francês, ele mostra claramente a tendência. À esquerda a superficie de terras cultivadas e à direita o número de operadores. A Curva azul representa os produtores e a vermelha o número de prepraradores, distribuidores e importadores.

Para continuar a dar uma ideia da importância desse mercado, em 2014 existiam 39.385 operadores engajados na produção de orgânicos, 4 % a mais que o ano anterior. Os produtores eram 26.466, 5,6 % dos produtores franceses. Ainda é pouco, mas tudo indica que esses números aumentarão. Cada vez mais o francês se sente responsável pelo meio ambiente e pensa que sua saúde é importante. Oxalá!

Reprodução
Parcela coberta de palha com plantação de milho, sistema que
protege a terra, consome menos água e guarda as qualidades da terra

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Permacultura

[2]http://www.agencebio.org/produire-bio

Comentários
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  • Walter Kunio Kamimura

    Walter Kunio Kamimura

    Fair tradesocialmente justo (tradução em português) No primeiro mundo é valorizado

  • Maria Cronemberger

    Maria Cronemberger

    Muitos parabéns pela iniciativa e coragem de começar algo novo! Tão importante para todos! Um grande abraço