No Nordeste, casas com moto já equivalem às com máquina de lavar

  • Folha de S. Paulo

Barato e rápido, ainda que perigoso, o transporte sobre duas rodas conquistou brasileiros das regiões Norte e Nordeste, onde há mais residências com motos do que com carros, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2012.

De acordo com o estudo, uma em cada quatro residências dessas áreas contam com motos. No Sudeste, essa proporção é de um para quase sete domicílios.

Para se ter ideia da penetração desses veículos de duas rodas, no Nordeste há tantos lares com motos na garagem quanto com máquinas de lavar roupa no banheiro ou na área de serviço.

Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), entre julho de 2012 e julho de 2013, o número de motocicletas cresceu 12% tanto no Norte como no Nordeste. No Sudeste, esse aumento foi de 5%.

Decisão lógica

Esse boom é produto da equação entre baixo desemprego, políticas de transferências de renda, boa oferta de crédito e transporte público de baixa qualidade.

"As políticas de inclusão por meio do consumo, em especial numa região de transporte público inexistente ou de baixa qualidade, facilitou o aumento do número de motos", afirma Luiz Artur Cané, presidente do Movimento Brasileiro de Motociclistas.

No Ceará, por exemplo, que concentra 1 milhão de motos, maior frota do Norte e do Nordeste, um trabalhador que utilize apenas duas conduções diárias tem gasto mensal de cerca de R$ 100.

Não é difícil imaginar a troca desse investimento por parcelas do mesmo valor para a aquisição de um modelo simples de moto que permita transporte individual ágil.

"Além de agricultores e vaqueiros, mulheres no interior cearense estão adquirindo e conduzindo motos", diz Igor Ponte, superintendente do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) cearense.

No Estado, 80 dos 184 municípios possuem mais motos do que automóveis.