Médica infectologista do HU-UFGD fala sobre cuidados e prevenção à chikungunya

Entre março e abril deste ano, Dourados registrou surto da doença, com 77 novos casos confirmados

  • Assessoria/HU-UFGD
Médica infectologista Andyane Freitas Tetila, que é mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias (Foto: Divulgação/HU-UFGD)
Médica infectologista Andyane Freitas Tetila, que é mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias (Foto: Divulgação/HU-UFGD)

A proximidade do inverno remete à preocupação com as doenças típicas da estação, como a gripe e os problemas respiratórios. Este ano, no entanto, entre os meses de março e abril, o que chamou a atenção em Dourados foi o registro de 77 novos casos de chikungunya, concentrados numa mesma região da cidade. A doença, que é típica do verão – estação mais chuvosa – teve 81 casos registrados em Dourados, entre janeiro e o início de maio.

A médica infectologista Andyane Freitas Tetila, que é mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias, e integra a Comissão de Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (CCIRAS) do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), explica como é a doença e quais os cuidados necessários para a prevenção dessa e outras arboviroses, que são doenças transmitidas por insetos.

Confira a entrevista realizada pela Unidade de Comunicação Social do HU-UFGD:

UCS/HU-UFGD - O que é a chikungunya?

Andyane - A Chikungunya é uma arbovirose que tem como agente o vírus Chikungunya (CHIKV), transmitido pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Causa uma doença febril aguda, de início repentino, semelhante à dengue, porém, com dores intensas nas articulações dos pés e mãos – dedos, tornozelos e pulsos, que podem estar acompanhadas de edema (inchaço no local). Pode ocorrer, também, dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas. A doença tem caráter epidêmico com elevada taxa de morbidade associada à artralgia (dor nas articulações) persistente fase crônica, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida.

UCS/HU-UFGD - Recentemente, foram notificados muitos casos em Dourados. A situação é preocupante? Existe necessidade de algum tipo de alerta para que as pessoas se previnam?

Andyane - De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MS), até o dia 3 de maio, foram notificados 257 casos em Mato Grosso do Sul (em 35 municípios diferentes). Em Dourados, 81 casos foram registrados este ano. Porém, com uma concentração de 77 novos casos confirmados entre os meses de março e abril, caracterizando-se como um surto. De acordo com informações da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica de Dourados, os casos foram evidenciados em um bairro específico, com encontro de focos do mosquito transmissor na localidade. As ações de controle foram realizadas e segue o monitoramento da situação por parte da Secretaria Municipal de Saúde. Pessoas infectadas com o CHIKV são o reservatório de infecção para outras pessoas, tanto em casa como na comunidade. Portanto, medidas de proteção pessoal, para minimizar a exposição dos doentes aos mosquitos, tornam-se imperativas para evitar a propagação do vírus e, consequentemente, da doença. É importante informar a pessoa infectada e outros membros da família e da comunidade sobre os métodos para minimizar este risco, por meio tanto da redução da população do vetor (mosquito) como da possibilidade de contato entre o vetor e as pessoas. As medidas de prevenção pessoais são eficazes na prevenção da transmissão do vírus para outras pessoas. E, o mais importante: prevenir a propagação do mosquito transmissor do vírus, praticar as medidas que evitam o acúmulo de água parada, pois é onde o mosquito se reproduz. Ao praticar as medidas já muito trabalhadas pelas autoridades de saúde, evitamos também doenças como a dengue e a zika.

UCS/HU-UFGD - A chikungunha se assemelha à dengue. Quais os sintomas e como identificar a doença?

Andyane - A fase aguda ou febril da doença é caracterizada principalmente por febre de início súbito e surgimento de intensa dor nas articulações, geralmente acompanhada de dores nas costas, rash cutâneo (manchas vermelhas na pele, presente em mais de 50% dos casos) cefaleia (dor de cabeça) e fadiga, com duração média de sete dias. Outros sinais e sintomas descritos na fase aguda de chikungunya são dor retro-ocular (atrás dos olhos), calafrios, conjuntivite sem secreção, faringite, náusea, vômitos, diarreia e dor abdominal. As manifestações do trato gastrointestinal são mais presentes nas crianças.

UCS/HU-UFGD - Quais as principais recomendações em caso de suspeita da doença?

Andyane - Ao apresentar os sinais e sintomas que sugerem a doença, todo indivíduo deve procurar um serviço de saúde para ser avaliado. Até que isso ocorra, deve-se manter hidratação oral, com ingestão de líquidos em geral, evitar a automedicação, manter-se em repouso e utilizar compressas frias nas articulações doloridas.

UCS/HU-UFGD - A chikungunya deixa sequelas?

Andyane - Após a fase aguda da doença, alguns pacientes poderão ter persistência dos sintomas, principalmente com dor nas articulações, musculares e em nervos. A prevalência desta fase crônica é muito variável, podendo atingir mais da metade dos pacientes. Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade acima de 45 anos, sexo feminino, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda. Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, queda de cabelo, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção e depressão. Alguns trabalhos descrevem que esta fase pode durar até três anos, outros fazem menção a seis anos de duração.


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