‘Tudo o que eu fiz foi com força’, disse madrasta de menino morto em confissão
Obtido com exclusividade pela 94FM, o depoimento que detalha o que aconteceu no dia da morte do pequeno Rodrigo é chocante

“Tudo o que eu fiz foi com força”. Essa frase, dita no revelador depoimento prestado na noite de quarta-feira (22) por Jéssica Leite Ribeiro, de 21 anos, dimensiona o que aconteceu naquela fria manhã de 16 de agosto em uma casa na Rua Presidente Kennedy, Jardim Márcia, no prolongamento da Rua Joaquim Teixeira Alves, em Dourados. Ali morreu Rodrigo Moura Santos, de apenas um ano e seis meses, enteado da jovem, presa por maus tratos.
Isolada numa cela do 1º DP (Distrito Policial) desde aquele dia, somente às 21h10 de anteontem ela resolveu contar o que aconteceu. Ao delegado Francis Flávio Tadano Araújo Freire, disse que “não faz mais sentido sustentar de que nada houve e que acredita que se não disser a verdade isso pode piorar a situação” dela e de seu marido, Joel Rodrigo Avalo dos Santos, de 25 anos, pai da vítima.
COBERTOR, LEITE
Obtido com exclusividade pela 94FM, o depoimento é chocante. Segundo Jéssica, naquela trágica quinta-feira acordou junto com o marido, sem saber detalhar a hora, quando ele foi ao banheiro e logo em seguida saiu para trabalhar. Informou que ela mesma abriu o portão para ele, que antes de sair ainda cobriu o pequeno Rodrigo, que dormia num colchão colocado no chão do cômodo em que viviam com outra criança, de três anos, também filha dele, mas com outra mulher.
Jéssica afirmou que após a saída de Joel voltou para dentro da casa e percebeu que Rodrigo e sua enteada de três anos estavam sobre o colchão, acordados. Disse ter ido preparar o leite das crianças, mas Rodrigo chorava e o colocou sobre uma bancada de mármore que divide duas peças da casa, para poder vê-lo enquanto preparava o leite.
QUEDA

Ainda no depoimento, relatou ter colocado o bebê no colchão, nervosa “por causa de tudo”, porque a criança estava chorando muito e já estava há alguns dias “chatinho”. Pontou que vinha dormindo mal porque a criança acordava durante a noite, e disse que tudo isso a deixava irritada.
CHORO
Com Rodrigo no colchão, foi para sua cama e cobriu a própria cabeça com um cobertor enquanto ele chorava normal. Depois, jogou o cobertor sobre o menino e somente em seguida percebeu que ele fazia força, já que tinha problema de intestino e inclusive teve de usar supositório noutra ocasião, quando só conseguiu defecar porque ela apertou a barriga dele.
Acrescentou ter imaginado que Rodrigo estava novamente com dificuldade de defecar e disse para a enteada apertar a barriga do irmão. Argumentou que a menina subiu de pé sobre o abdômen de Rodrigo, mas o peso dela fazia com que o menino continuasse a chorar.
APERTOU COM FORÇA

Então, levantou-se da cama e foi até o menino, ficou de joelhos no chão e começou a apertar forte a barriga do bebê utilizando as duas mãos. Afirmou que apertava com força e Rodrigo chorava, irritada e nervosa, dobrou os joelhos do menino e colocou suas pernas sobre a barriga dele, “como se faz quando está com cólica”. Questionada se agiu com força, asseverou: “tudo o que eu fiz foi com força”.
Jéssica disse ter colocado os próprios joelhos sobre o abdômen do menino e que ele ainda chorava. Não soube dizer quanto tempo durou esse procedimento, mas afirmou que em momento algum percebeu ossos de Rodrigo sendo quebrados.
PISÃO NAS COSTELAS

A madrasta da vítima afirmou ainda ter pedido para enteada continuar a apertar a barriga de Rodrigo, mas que ela “levava na brincadeira”. Acrescentou que a menina “achando que era graça” ficou com um pé sobre o bebê e em seguida disse que ele vomitou.
DESESPERO
Jéssica detalhou ter ido até ele e percebido que babava, sem chorar, quieto. Alega ter imaginado que ele tivesse desmaiado e o pegou no colo e ele deu um suspiro. Não percebeu se ele estava pálido ou roxo, e observou a barriga, quando percebeu que não mais respirava.
Na sequência, pontua ter ficado desesperada e que acabou apertando o pescoço do menino, fazendo respiração boca a boca na tentativa de reanima-lo. Somente depois chamou a mãe e o pai. Jéssica disse não ter contado essa versão antes porque estava assustada.
CHOROU PELA SITUAÇÃO

Enfatizou que quando Rodrigo morreu Joel não estava em casa. E sobre o laudo necroscópico elaborado pelo médico legista que examinou o corpo da criança, que constatou várias lesões na cabeça do menino, alegou que no dia 12, às 19h, quando iam para igreja, ele caiu batendo a parte de cima da cabeça.
Nessa ocasião, Dia dos Pais, ela ficou chorando por causa dos constantes enjoos do menino. Jéssica argumenta ter chorado “por conta da situação: desempregada, morando em uma casa com duas peças, cuidando de duas crianças que não eram suas, e Rodrigo, bastante enjoado”. Disse para Joel que não iria aguentar mais aquela situação, apesar de ama-lo muito.
LIBERDADE PROVISÓRIA
Ainda naquela noite Rodrigo chorou muito e Joel a conformou, afirmando que essa situação ia passar. Ela reconheceu que o marido começou a brigar com ela por motivos banais, mas não a agrediu fisicamente. E na noite anterior à morte não houve briga com ele. Também não soube informar por qual razão o bebê tinha um “galo” na testa.
De posse desse novo depoimento, os advogados que atuam na defesa de Joel ingressaram com pedido de liberdade provisória com ou sem fiança na quinta-feira (23). Ele foi preso no dia da morte da criança e posteriormente transferido para a PED (Penitenciária Estadual de Dourados).