Mato Grosso do Sul tem a segunda maior taxa de estupros do Brasil

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Mato Grosso do Sul tem a segunda maior taxa de estupros do Brasil

Mato Grosso do Sul é o segundo Estado brasileiro com mais ocorrências de estupro de acordo com a densidade populacional em 2013, conforme os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que foi divulgado hoje. Segundo o levantamento, no ano passado ocorreram 1.263 crimes contra a liberdade sexual no Estado, o que corresponde a 48,7 casos a cada 100 mil habitantes. Roraima aparece em primeiro lugar no ranking, com índice de 66,4.

Os dados correspondem ao volume de denúncias relacionadas à violência sexual. Segundo o sociólogo Silvino Areco, perda de valores sociais é o principal aspecto que contribui para o aumento da violência geral. “Nós vemos que há uma brutalização das relações sociais. A violência está banalizada, e isso influencia diretamente também nos casos de estupro, porque as pessoas não têm mais famílias, valores”, afirma.

Estrutura

“A gente vê que as pessoas estão denunciando mais, colocando a público essa violência, que acontece principalmente contra a mulher”, explica o sociólogo. “Isso porque as delegacias estão mais preparadas para atender a esses tipos de casos, e até nas universidades tem-se debatido este tema”, diz.

A opinião é compartilhada pela delegada Rosely Molina, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Ela ressaltou que a taxa aparece alta em Mato Grosso do Sul porque as mulheres são encorajadas a denunciar os agressores. “O estupro é uma ação privada, então as vítimas precisam manifestar interesse em denunciar. Como nós sempre mostramos os estupradores presos, elas se sentem mais seguras”, disse.

Molina lembrou também que as mulheres ficam mais à vontade em relatar as agressões em uma delegacia especializada. “O tratamento que é dado faz toda a diferença”. A delegada lembrou ainda que em 40% dos casos de violência sexual, a vítima conhece o autor.

Fronteira Seca

Para Silvino Areco, outro característica que coloca o Estado como um dos piores no ranking é o limite geográfico, especialmente a fronteira seca com Paraguai e Bolívia que torna o estado suscetível a todo e qualquer tipo de violência.

“Na maior parte dos casos de estupro, os autores estão sob efeito de substâncias psicoativas, seja álcool ou drogas. Aqui, como é fronteira, favorece a circulação e também o consumo dos entorpecentes”, analisa ele, afirmando que a proximidade dos países vizinhos também aumenta a sensação de impunidade dos autores. “É mais fácil cometer um crime deste aqui e depois fugir para outro país e ficar em liberdade”.

Colônias indígenas

Casos de violência sexual entre indígenas também são comuns em Mato Grosso do Sul e o sociólogo diz se tratar de um aspecto comportamental. “Nós temos a segunda maior população indígena do Brasil. Casos de estupro ocorrem muito nas aldeias porque ainda está enraizado na cultura deles”, afirma.

Rozeli Dolor Galego, delegada titular da Deam de Dourados – região onde está concentrada a maior parte da população indígena de Mato Grosso do Sul, também analisa que casos de violência ainda são “aceitos” nas aldeias.

“Pelo que a gente percebe no trabalho da polícia, a violência sexual ainda é vista como uma ‘sina’ entre uma parte de população indígena”, explica a delegada. “Às vezes os familiares das vítimas denunciam, mas a maior parte dos casos que a gente recebe é de vítimas encaminhadas do hospital”, completa.

 

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