Aos 57, Hortência diz que ainda poderia jogar na seleção

  • Blog do Roberto Salim/UOL
Aos 57, Hortência diz que ainda poderia jogar na seleção

Apesar do desastre olímpico, hoje é dia de festa no reino do basquete feminino do Brasil: Hortência, a rainha, completa 57 anos. A festa será no haras da família, mas ela vai logo avisando: ''Faço 57 anos, mas estou com o corpinho de 20″, e cai na gargalhada. Quem a viu nas quadras e agora a encontra em qualquer lugar constata: nem um quilo a mais, nada fora do lugar.

''Quando eu parei de jogar aos 36 anos, pesava 62 quilos. Agora, peso os mesmos 62, quando muito 63″.

A Magrela, como era chamada nos tempos de reinado, não se descuida.

''Faço musculação, academia e muay-thay, ganhei mais massa muscular''.

E bola de basquete, será que Hortência ainda bate sua bolinha?

''Não, nunca mais, a não ser para fazer uma ou outra reportagem''.

Eu lembro que após a Olimpíada de Atlanta, quando o Brasil ganhou a medalha de prata, passado exatamente um ano da conquista, convidei Hortência para um desafio: ver se ela entrava no uniforme ainda, com a camisa 4, e como se daria numa série de arremessos. Ela chegou ao ginásio do SESC Vila Nova, no centro de São Paulo, vestiu o uniforme, fez o inconfundível rabo de cavalo e pediu a bola para o grande Rosa Branca, que era quem administrava o local. Foram dez minutos de puro encantamento: ela deu a entrevista e não errou um lance à cesta.

''Eu até quero errar, mas não consigo'', dizia Hortência, sem falsa modéstia. Era a mais indiscutível verdade.

E hoje Hortência, se você cismasse de voltar às quadras, poderia jogar na seleção, por exemplo?

A rainha pensa um pouco, mas só um pouco e responde com a sinceridade habitual.

''Primeiro teria de treinar para ver como estou… mas estaria no grupo sim… ou será que não? Olha, eu teria de treinar muito, teria de treinar tudo de novo, mas não acho que brilharia como brilhei… Mas jogaria, com certeza. Quer saber, daria sim para enganar, mas como não sou enganadora nem vamos pensar nisso''.

A verdade é que Hortência sabe o tamanho do buraco em que o basquete feminino caiu.

''Tem tanta coisa a ser feita. Primeiro uma auditoria na confederação, para saber qual é a real situação financeira da entidade. Quanto a um técnico novo na equipe feminina, não me preocupa muito essa questão no caso da seleção adulta. Eu penso que para Tóquio não dá para fazer mais nada. Agora é pensar em um prazo mais longo, trabalhar as seleções de base e pensar no futuro… 15, 20 anos''.

Para encerrar,  ela vai falar sobre a frase do técnico Antônio Carlos Barbosa, o técnico que mais dirigiu a seleção brasileira na história, com mais de 400 partidas no banco de reservas. Barbosa disse que jogadoras como Hortência e Paula nunca mais surgirão no basquete brasileiro, talvez nem no basquete mundial.

''O que acho disso? Bem, eu acho que mais que jogadoras fora de série, precisamos de uma estrutura forte, experiência, onde todas as jogadoras sejam fortes. Veja o vôlei: quem é o grande jogador do masculino? Ou a grande jogadora do feminino? Não existe um nome. Existe um trabalho, um grupo''.

E Hortência pede licença para caprichar no penteado.

Aí eu dei os parabéns pelo aniversário neste 23 de setembro e pedi que ela mandasse uma foto com os ''bobs'' no cabelo.

''Você está louco, vai publicar uma foto minha com a cara da dona Florinda??? Vou te mandar uma foto treinando muay-thay, que eu adoro''.

Se a rainha falou… tá falado!

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