Papa estende perdão do aborto para lá do Jubileu da Misericórdia

O Papa Francisco anunciou esta segunda-feira que vai alargar a todos os sacerdotes indefinidamente a possibilidade de “perdoarem” o aborto.
A decisão comunicada em carta apostólica Misericordia et Misera, que marca o encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia, sublinha que o aborto continua a ser um "grave pecado", mas "não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar".
“Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.”
Esta faculdade de perdão tinha sido dada aos bispos no início do Ano Jubilar da Misericórdia, que começou a 8 de Dezembro de 2015 e terminou este domingo. Fica "agora alargado no tempo", escreve o líder da Igreja Católica.
"Para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto."
A absolvição do “pecado do aborto” é uma prerrogativa dos bispos que estes podem delegar aos padres “em situações especiais”, explicou na abertura do Ano Jubilar à BBC Brasil o padre Gerardo dos Reis Mata. “Todavia, durante o Santo Ano, para facilitar ainda mais o perdão, o Papa concedeu essa facultade a todos os sacerdotes.” O Ano Jubilar acabou no dia 20 de Novembro, a possibilidade do perdão continua.
Na mesma carta, Francisco apelou a "uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”.
"Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma casa ou uma terra onde habitar, ser discriminados pela fé, a raça, a posição social... estas e muitas outras são condições que atentam contra a dignidade da pessoa", continua o líder da Igreja Católica.
Jornada dos Pobres
Prolongando assim o espírito do Jubileu, o Papa escreve que “este chega ao fim e a porta santa fecha-se, mas a porta da misericórdia do nosso coração fica sempre aberta”.
Depois de ter marcado este ano por uma série de gestos em defesa dos excluídos, o Papa apela agora à “imaginação” para se encontrarem novos meios de os padres e crentes se interessarem pelos mais pobres.
“O mundo continua a produzir novas formas de pobreza espiritual e material que atenta contra a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve estar sempre vigilante e pronta a identificar novas obras de misericórdia e aplicá-las com generosidade e entusiasmo”, insiste.
Francisco instaura ainda "uma Jornada Mundial dos Pobres", a ter lugar todos os anos num domingo a meio de Novembro – uma decisão na linha da que este ano permitiu convidar milhares de excluídos para o Vaticano no dia 13 deste mês. “Será uma jornada que ajudara as comunidades e cada baptizado a reflectir sobre a forma como a pobreza está no coração do Evangelho e no facto de que, enquanto houver um pobre à porta, não pode haver justiça nem paz social”, diz o Papa argentino.