Desperdícios

  • Mazé Torquato Chotil
Desperdícios

Ontem, quinta-feira, estava procurando um tema para esta coluna, duas semanas após ter pisado em terras brasileiras. Nas inúmeras viagens depois da chegada, quero entender o Brasil neste momento de crise econômica e política. Ando ouvindo, tentando compreender o que está acontecendo. Uma coisa me incomoda: os desperdícios, sobretudo na alimentação, num país onde se diz que muitos têm problemas de fome. Particularmente, acho que ninguém passa fome neste país, porém a questão é da qualidade da alimentação. Razão pela qual fico contente em ver uma preocupação grande com a agricultura familiar orgânica, sobretudo na nossa região. Por outro lado, fico escandalizada com o uso de refrigerantes que contém produtos químicos e muito açúcar e com a Coca-Cola que está matando o nosso guaraná.

Me sinto mal com os desperdícios, sobretudo na alimentação. Mesmo em famílias populares, vejo comida indo para os lixos. Na Europa, onde vivo há mais de 30 anos, talvez pela vivência de guerras, não se joga a mesma quantidade de alimentos no lixo. A gente se preocupa com a quantidade de pessoas que vão comer e faz a alimentação baseada neste número. O que por ventura sobrar vai para a geladeira a fim de servir numa proxima refeição ou então para o congelador, para ser reutilizada num outro momento. Claro, se tem um problema na conservação do alimento, se joga, para não ter problemas com a saúde.

Outra coisa que me incomoda muito é o “fazer justiça com as próprias mãos”, não ter confiança nos mecanismos de justiça do país. Que democracia é esta? Fiquei indignada ao ler o artigo de Marcos Romão do dia 25 último “Linchamento em Copacabana: policial assiste e historiador salva ladrão de morte iminente” que fala de um ladrão encurralado em Copacabana, Rio de Janeiro. Ele estava ensanguentado, levando porrada de mulheres, velhos...a população fazendo justiça com as próprias mãos!

Posso entender que esta população esteja tendo uma dose excessiva de violência, se confrontando a ela todos os dias. Mas é o Estado quem tem a “procuração” da população para a proteger. Como penso que o mal deve ser corrigido pela raiz, me pergunto o que faz ladrões e violências? Não penso que o homem é mau por natureza. A sociabilidade, a educação pode moldá-lo de uma forma ou de outra. A população devia sim, pressionar os poderes públicos no sentido de obter a proteção que lhe é necessária, ao invés da tentação de fazer justiça como se fazia na idade das cavernas. No começo do século 21, somos seres humanos inteligentes, racionais.

O artigo conta que o ladrão em questão teve a sorte de passar por lá o historiador Joel Rufino, de 74 anos, que exibiu sua carteira de diretor de comunicação do TJ e impediu o massacre, quando um policial civil armado assistia sem se meter! Cena de barbárie!Em Osasco, onde mora minha mãe, no dia da minha chegada, 18 pessoas foram mortas. As investigações ainda correm, mas as suspeitas são de “fazer justiça”. Ninguém tem o direito de tirar a vida do outro. Onde está o civismo, o patriotismo, a pessoa humana nesta história? Não defendo ladrões que devem pagar, mas quando se pega um ladrão com as mãos no saco, deve-se exercer a cidadania, os direitos humanos, entragá-lo para a polícia de forma que a justiça seja feita. Somos a sétima potência mundial, precisamos agir em consequência. E se a polícia não faz seu dever, devemos sim é mudar a instituição, de forma que ela exerça seu dever. Execução de pessoa humana em praça pública é inconcebível! Um desperdício de humanidade.

Bom final de semana!