Jornal impresso mais antigo de MS, O Progresso circula pela última vez na sexta-feira

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Jornal O Progresso circula pela última vez na sexta-feira (Foto: Adilson Domingos)
Jornal O Progresso circula pela última vez na sexta-feira (Foto: Adilson Domingos)

O Jornal O Progresso, fundado em 1951 pelo ex-deputado federal Weimar Gonçalves Torres, vai fechar. Com sede em Dourados, o jornal já foi um dos três mais influentes de Mato Grosso do Sul, mas circula pela última vez na sexta-feira (27).

A reportagem apurou que o comunicado foi feito ontem (23) por uma das diretoras, Blanche Torres, filha da matriarca da família, Adiles Amaral Torres, à frente da empresa desde 1982. O marido dela, Weimar Torres, morreu em acidente aéreo, em 1969.

A informação  obtida pela reportagem indica a migração para on-line, caminho cada vez mais seguido pelos veículos que não querem "morrer".

Análise - O jornal impresso perdeu o encanto. Ficou para trás por não saber agregar o novo. É a análise do diretor-presidente do instituto de pesquisas Ibrape, Paulo Catanante. Para ele, as empresas dedicadas ao jornal de papel têm dificuldade de acompanhar os novos recursos trazidos pelas versões on-line, como texto às vezes mais enxuto e sempre atualizado, além de material audiovisual.

A barreira, aponta, é maior para meios do interior. Catanante fala do assunto com a experiência de quem está desenvolvendo pesquisa sobre mídias em Mato Grosso do Sul. Em Dourados, cita, jornais impressos são lidos apenas por 1 a cada 246 adultos. O diretor do instituto acredita que a consolidação da internet como meio de comunicação de massa, seja dos jornais on-line ou das redes sociais e aplicativos, é muito maior no interior.

“É um índice totalmente insignificante", diz, em relação ao número de leitores do modelo impresso em Dourados. "Na verdade, primeiro o jornal impresso foi substituído pelas informações nas mídias sociais e sites de notícias, e segundo que as matérias são atrasadas. A sabedoria do leitor já não busca informação no impresso porque já busca informação nas nuvens”, comenta.

O diretor também afirma que o leitor, hoje, quer ser estimulado. “O impresso já não é mais empolgante. Fizemos pesquisa em Dourados e uma das reclamações é que não tem mais notícia instantânea”, diz.

Credibilidade – Para o pesquisador, outra questão é a credibilidade. Paulo afirma que o impresso não consegue atualizar a informação. O levantamento em Mato Grosso do Sul mostrou ao diretor que os leitores desenvolveram a prática de checar na internet as informações que leem nos jornais impressos.

“Não tem atrativo, e, além disso, não tem a credibilidade que tem as notícias de sites, devido ao atraso. A tendência é os sites de notícia substituírem os jornais impressos. Quando alguém lê, vai confirmar a notícia que leu em jornais on-line. Os melhores textos, as melhores fotos, estão no online”, avalia.

Outro dado da nova pesquisa do instituto, afirma Catanante, é que apenas 10% do conteúdo dos jornais impressos são lidos. “As pessoas não conseguem ler 10% do conteúdo do jornal, não está tendo conteúdo inteligente para chamar atenção. Principalmente no interior”, analisa.

O diretor afirma que em Dourados, em dois anos, o acesso diário à internet aumentou de 38%, em 2017, para 68% em 2019.

O Progresso - O jornal circula em Dourados e outras cidades da região, com correspondente e assinantes em Campo Grande. No discurso que fez ontem aos funcionários, Blanche Torres atribuiu a desativação da versão impressa à crise financeira que atinge os jornais impressos do país e sinalizou com a possibilidade de retorno em 2020. Entretanto, funcionários presentes na reunião afirmam acreditar ser difícil o impresso voltar a circular. "Estamos arrasados", disse um deles pedindo anonimato.

História – De acordo com arquivos do jornal, O Progresso nasceu do sonho do advogado José dos Passos Rangel Torres, em 1920, em Ponta Porã, e renasceu pelas mãos do filho, o também advogado Weimar Torres, em 1951.

Foi o primeiro jornal diário de Mato Grosso do Sul e ao longo da história envolveu toda a família, Adiles do Amaral Torres (mais antiga colunista social de MS), o pai dela Wlademiro Müller do Amaral, filhas e netos.

Em 1969, após a morte de Weimar Torres em um acidente aéreo a empresa passou a ser dirigida por Vlademiro do Amaral, com o apoio da filha Adiles. No final de 1982, Adiles assumiu o comando da empresa e em 1985 passou a assinar como diretora-presidente.

Blanche Torres ocupa atualmente o cargo de diretora-superintendente do jornal. A outra filha de Adiles e Weimar, June Torres, atuou como diretora executiva por muitos anos, mas deixou o cargo para se dedicar à fisioterapia.

***Com informações de  Izabela Sanchez e Helio de Freitas, do Campo Grande News

Comentários
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  • José

    José

    Que tristeza com essa perda!! Vou perder meu despertador o ENTREGADOR DE JORNAL, ele sempre me acordava com o barulho de sua moto, cantarolando ou jogando o jornal enroladinho na janela do meu quarto!!! KKKKK
    Vou ficar sem o meu jornal que eu lia todas as manhas enquanto minha esposa prepara o café da manhã!!! Sinto muito pelos funcionários também!!! Me fez recordar de um velho amigo que entrega os jornais de bicicleta para ajudar a sua mãe e ele dizia para todo mundo com orgulho lá na escola que trabalhava no jornal!!!!

  • Ana Claudia

    Ana Claudia

    Muito triste que o Jornal O Progresso esteja a encerrar suas atividades. Por mais que continue a nos brindar com informações por via digital, não será a mesma coisa!!!! Esse jornal faz parte da história de muita gente!!! Sinto muito também pelos funcionários que ficaram desempregados, pois com a tecnologia onde trabalhavam 10 só fica 1 . . . !!! A MODERNIDADE e o PROGRESSO chegou e com ele seus pontos positivos e negativos!!!!

  • Anna

    Anna

    A modernidade chegou e com ela algumas coisas positivas e outras negativa!!! Muito triste esta noticia!!!

  • Marli socorro lima

    Marli socorro lima

    É com surpresa que recebi essa notícia, não por um jornal impresso sucumbir a internet, mas, por esse ser o O Progresso, com toda sua história e pioneirismo na nossa cidade e, depois, toda a região. Eu comparo um jornal impresso a um livro, sempre terá seu lugar, seu charme, credibilidade e competência. O jornalismo perde com esse fechamento.

  • Francisco Cardoso

    Francisco Cardoso

    é uma perca incalculável para nossa cidade