Famílias que não são 'cupincha' de políticos esperam casa popular há décadas em MS

Será votado amanhã (24), na Câmara Municipal de Campo Grande o Projeto de Lei que cria o Portal da Transparência da Casa Popular

  • Midia Max

Da janela de seu barraco Sandro Roberto Amâncio, 32 anos, olha todos os dias para casas como a que sonha em ter para dividir com os dois filhos pequenos. Assim como outras 129 famílias, ele vive na Favela da Portelinha, no bairro Talismã, região norte de Campo Grande, que por ironia fica aos fundos de um conjunto de casas populares como a que espera receber há 16 anos.

Os 16 anos são referentes ao tempo que Sandro possui cadastro na Emha (Agência Municipal de Habitação) na esperança de adquirir uma casa própria. “Todos os anos renovo o meu cadastro”, garante apresentando o último documento de inscrição emitido pelo órgão.

Pai solteiro de uma menina de cinco anos e o menino de nove, ele optou por viver na Portelinha há seis anos. “Antes disto eu morava de aluguel, que é um dinheiro que vai embora. Aqui a gente está na favela, mas economiza alguma coisa para as crianças”, explica.

A situação da família ficou mais difícil há dois meses, quando Sandro sofreu um acidente de moto e teve fratura exposta em três partes da perna esquerda. “Agora estou no auxílio desemprego”, explica. Sua renda mensal é de R$ 680, que aplica no pagamento da conta de água, compra de comida e para melhorar as condições do barraco em que vive.

De acordo com Sandro, a justificativa que sempre ouve sobre a demora em ser contemplado com moradia é a de que ele faz parte de um processo de seleção. “Eles falam que a preferência é para deficientes, idosos e mulheres solteiras com filhos”, afirma.

A indignação aumenta quando observa que no residencial vizinho há inúmeras pessoas que não atendem a estes critérios. “Tem um bloco que está praticamente vazio. São casas que foram destinadas aos parentes de assessores e de parlamentares que não ocupam por considerarem o local ruim. Também vejo direto homem solteiro com casa”, denuncia. Para Sandro, isto impede que pessoas que realmente necessitam de moradia demorem em serem contemplados.

Projeto de Lei que cria Portal de Transparência da Casa Popular será votado na Câmara

Será votado na próxima terça-feira (24), na Câmara Municipal de Campo Grande o Projeto de Lei que cria o Portal da Transparência da Casa Popular, de autoria do vereador Zeca do PT. Se aprovada, a lei permitirá que a pessoa com inscrição na Emha (Agência Municipal de Habitação) acompanhe o seu processo por meio da internet e torna público os critérios de distribuição dos imóveis.

Segundo o vereador, atualmente, há cerca de 6 acampamentos de famílias que aguardam por moradia em Campo Grande. “O projeto significa a utilização da tecnologia na empresa de habitação. Com isto haverá um controle social sobre os critérios de seleção para evitar o que aconteceu nas últimas gestões, em que só os ‘cupinchas’ eram contemplados”, explica o autor do projeto.

Na eleição para governador do Estado, em 2010, a propaganda da coligação “A força do Povo”, que tinha como candidato ao governo o atual vereador Zeca do PT, divulgou vídeo do governador André Puccinelli (PMDB) distribuindo casas populares entre vereadores do interior que considerava aliados e autorizando publicamente a entrega de unidades habitacionais construídas com dinheiro público para “cupinchas”.